4 de fevereiro de 2018

Como se declarar a um desconhecido

Mandacaru by Karla Vidal


Quando eu te conhecer,
Será que serás muito outra pessoa?
O que me espera após atravessar esta serra?
Poderei ser contigo meu eu capaz de rasgar a vestimenta
Da própria nudez?

Quando eu me apresentar,
Não estranhe porque quanto mais doce é meu sol
Mais inflamável é meu sou
Talvez, isso te atraia porque ouvi dizer que nas horas não vagas
Gostas de apagar incêndios

Imagine que esta linha é uma das fileiras do cinema do shopping
E que nossas mãos fingindo ser bobas se olham
A linha do teu coração começa a sarrar com a linha do meu destino
Meu ouvido se rendendo ao calor da tua floresta de sussurros

Meus lábios cegos esperando que os teus, especialistas em braile,
Os traduzam na linguagem do silêncio: Ok, pode jogar fora essa metáfora cansada
E voltemos ao beijo

Existem no mundo milhões de pessoas que nunca conheceremos
E das cem que acreditamos conhecer, milhares se tornam estranhas
Quando a cerração ameaça os fantasmas do navio
Não entendo por que, diante de tantas páginas a céu aberto
Fico aqui sonhando uma estratégia de me perder em teus labirintos

O desencontro é vibrante nota da música secreta do mundo
Permita-me, nesse desencontro, chamado poesia, te conhecer intimamente
Antes de nos desencontrarmos, aproveito pra me despedir
Espero que possa te achar bonito
E redesenhar o trânsito da cidade
Para que os engarrafamentos te façam desaguar
Num jantar à luz de velas que preparei pra nós
E que tua profissão não te obrigue a apagar esta chama

Antes de pensar que sou um stalker,
Reveja Amelie Poulan
E desassine a Veja

Ficarei devendo o som da minha voz
No próximo desencontro, quem sabe?
Ou quando eu te acionar pra me reduzir
a cinzas, até que o “não tem mais jeito”  desminta o “ Agora parto”

E, com aliviante surpresa, possa me parir fênix
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