22 de fevereiro de 2017

Por onde anda Sabryna, aprendiz de feiticeira?





Li, recentemente, um texto bem escrito e bem idiota cujo título é algo como “Quando se ama alguém, mas não se gosta mais dele” e que, a bem da verdade, poderia ser “O valor da amizade na loja da conveniência”

À medida que ia lendo, agradecia pelos amigos: os convenientes e os inconvenientes

E orei:

Obrigado, Senhor, pelos amigos que me adicionaram no Face para garantir o superávit de sua balança comercial

Por aqueles que precisam de um despachante de luxo para resolver assuntos do Detran

Por aqueles do tipo texto implícito:

  • Texto explícito: “Bora marcar”
  • Texto implícito: “Em agosto... a gosto de Deus”

  • Texto explícito: “Ô meu chapa, quanto tempo!”
  • Texto implícito: “5, 4, 3, 2, 1 Vou embora porque tenho mais o que fazer.”


E assim por diante

Bem, depois que os amigos acima tiveram direito a sua cota de oração, acendi o interruptor do laicismo e percebi que minha parcela orante se acendeu com ainda mais brilho

Mas, eu não estava mais orando. Estava me lembrando de uma amiga. E essa amiga era metáfora de amigos caros como a graça

Amiga do Clécio tímido, do Clécio confuso, do silencioso, do tagarela, do travado, do espontâneo, do aikidoca, do muay thai, do desengonçado, do elegante, ácido, do básico, do arengueiro, do pacato, do extrovertido, do ensimesmado, do preguiçoso, do workaholic,  do destro, do canhoto, do heterossexual, do bissexual, do a-sexual, do etc e tal

Todos os Clécios e os seres humanos que o espelho do Clécio esconde são felizes por terem sido visitados por um certo dia cujo endereço foi uma certa academia num certo Recife de 6 anos atrás

Neste dia, uma certa pessoa entraria na história de um incerto Clécio; entraria de dread, piercing e cuia. Pouco a pouco, o riso estridente dela se infiltrou nas minha corrente: a sanguínea e a de Adrômeda

Nas aventuras, nas ciladas, na rotina, ela se faz presença encantadora sem precisar ser aprendiz de feiticeira. E não tem preguiça de lutar contra a inércia, a conveniência e a preguiça de colher Clécios novos nos antigos e vice-versa. Ela ama gostar e gosta de amar. 

Eu topo andar ao lado dela nu, sem faróis, heróis ou heroína, pela Avenida Caxangá ou outra que topar o desafio de ser maior.


Ser ukê no seu dô é uma honra. 

Não sou grato, minha amiga, porque a gratidão por si só é morna e o carinho que sinto tem fogo, fome, paz e inquietude.


Dedicado a Karla Sabryna 
Salve 22-02-2017.

21 de fevereiro de 2017

Conselho pré-carnavalesco para jogadores de Minecraft e suigeneris

Fonte da imagem: Bioretro




O conselho que dou é: Tenha piedade de si mesmo
E permita-se impagar suas cobranças

Não se deixe prender em nenhum Minecraft ou genérico

E se você for capturado, não se deixe convencer
Que você só serve para nutrir criaturas selecionadas para evoluir
Como se fosse uma digi-criatura qualquer

Não se ofereça em sacrifício para nutrir o ego de nenhum jogador

Ninguém é obrigado, para aparentar equilíbrio e desprendimento,
A comprar uma vaga no camarote do sorriso basbaque
E ficar assistindo ao desfile do bloco “Acredite quando eu finjo”

Prefira o ingresso para o bloco “Estou fora do ar para reparos técnicos”

Respeite o fato de que seu Eu te amo está ainda bastante inflamado,
Respeite sua lenta e gradativa cicatrização

Você não é obrigado a esbanjar magnanimidade
Como se ela fosse sinônimo de equilíbrio

Equilíbrio é respeito ao outro,
Mas também a si mesmo
Neste carnaval e além

Experimente reconstruir o edifício do carinho,
Da saudade, do prazer
Não se contente com o papel de um personagem
Que, nesse jogo, não tem o direito de evoluir

Também não coloque o barco do equilíbrio
Ao sabor dos mares escorregadios
De indecisões extenuantes
Por mais que estejam cercadas de timidez cativante

Aproveite a liberdade do carnaval
E se dispa das arestas de inércia e egoísmo
Que costumam assaltar o equilíbrio

Só mais um conselho: permita-se assanhar as franjas da orla
Do teu manto de estratégias
Porque equilíbrio e premeditação não combinam
Quando se aterrissa nos quatro cantos



7 de fevereiro de 2017

Chegaste: a versão diabética do melodrama no novo hit de Roberto Carlos

Fonte da imagem: Hora Pop TV


Alguém poderia pensar que o motivo dessa postagem é falar sobre o erro de colocação pronominal cometido por Roberto Carlos em sua tradução da música Chegaste, hit cantado em dueto com Jennifer Lopez e que já foi assistido por 6 milhões de pessoas no You Tube.

De fato, a certa altura da letra da canção, o cantor diz:

“Porque nunca é tarde para apaixonar-se”, onde a ênclise não se aplica.

Mas, não é o caso. A motivação da postagem é falar sobre a apropriação preguiçosa que o Rei faz de um dos gêneros artísticos mais conhecidos. Em Chegaste, o melodrama torna-se uma pálida sombra do caráter ousado e despudorado que marca sua origem e seus desdobramentos como o brega.

Um dos caminhos para definir o melodrama é como expressão artística que oscila, sem se preocupar com os limites formais ou canônicos, entre tragédia e comédia, transitando, num mesmo espetáculo entre diferentes variáveis como o discurso falado e o discurso cantado.

Surgido no século XVI, o melodrama confundia-se com a ópera, mas acabou demonstrando ser um gênero típico da cultura de massa, sendo capaz de se adaptar às mais diversas plataformas como o folhetim, o teatro, o cinema, a música e a televisão.

Cenas de ação, máquinas fantásticas, dança e lances cômicos caracterizam o melodrama. Contudo, o fio condutor da narrativa melodramática é sempre uma história amorosa carregada no tempero romântico.

Ao adaptar para o Português a canção Llegaste, de Kany Garcia (compositora premiada com o Grammy Latino), Roberto Carlos investiu numa nova versão do melodrama, dispensando a ação e o componente fantástico e investindo no lado açucarado do gênero, como atesta o refrão, que compara a chegada do ser amado à chegada de um caramelo à boca, promovendo uma rima paupérrima, mas também engraçada e corajosa. 

Por meio dela, identificássemos que o Rei, a exemplo de Sílvio Santos, decidiu deixar ligado de vez o botão do Foda-se.

Certamente talvez, o melodrama construiu seu repertório de metáforas com base na economia.

Diversas adjetivações melodramáticas baseiam-se em produtos que, em algum momento da história humana foram raros a exemplo do ouro, joias, açúcar, mel: todos bens de alto valor no contexto em que se formou o melodrama, isto é, na transição entre os séculos XVI e XVII. Os elogios melodramáticos passeiam entre gostos e cheiros, tingindo o amor com as cores das especiarias.

Outra característica do melodrama é tratar as emoções como se fossem geradas em grandes unidades produtoras a exemplo de usinas, garimpos e lavouras. Por este motivo, na poética melodramática as lágrimas rolam (como o caldo de cana vertido de grandes tachos) e o sangue ferve como a água no interior de uma caldeira.



Chegaste 
Versão: Roberto Carlos

Tanto tempo já vai caminhando
E ainda me pego recordando
Lágrimas rolaram dos meus olhos
Enxuguei mais de uma vez
Tenho algumas marcas
Que ficaram em meu sorriso nesses anos
E também lembranças tão bonitas que o tempo não desfez

Quem diria que você viria sem dizer que vinha
Porque nunca é tarde
Para apaixonar-se

Chegaste
Senti na minha boca um: Te quero
Como um doce com caramelo
Necessitava um amor sincero
Chegaste
E ouvi da tua boca um: Te quero
Pra se apaixonar sempre é tempo
Necessitava um amor sincero

E agora que eu conheço os caminhos
Que me levam pros seus braços
Agora que o silencio
É uma carícia que a felicidade traz
Você e o seu sorriso iluminam minha vida e meus espaços
E chega me dizendo num sorriso
Nao me deixe nunca mais

Quem diria que voce viria sem dizer que vinha
Porque nunca é tarde
Para apaixonar-se

Chegaste
Senti na minha boca um: Te quero
Como um doce com caramelo
Necessitava um amor sincero
Chegaste
E ouvi da tua boca um: Te quero
Pra se apaixonar sempre é tempo
Necessitava um amor sincero

Quem diria que voce viria sem dizer que vinha
Porque nunca é tarde
Para apaixonar-se

Chegaste
Senti na minha boca um: Te quero
Como um doce com caramelo
Necessitava um amor sincero
Chegaste
E ouvi da tua boca um: Te quero
Pra se apaixonar sempre é tempo
Necessitava um amor um amor

Chegaste
Senti na minha boca um: Te quero
Como um doce com caramelo
Necessitava um amor sincero

Borboletas na barriga e a festa no dia em que a indiferença acabou



Borboletas_na_Barriga via Visual Hunt / CC BY-NC


Borboletas na barriga


A indiferença foi um julgamento onde as testemunhas, vestidas de veredicto,
Depunham em silêncio, de costas para a existência do réu

No tribunal da indiferença, os dois advogados eram de acusação
E tudo que o réu calasse seria usado contra ele

Meu amor entrava na côrte, treinava comigo
E dizia: Muito obrigado
Por nada

A indiferença era um albergue cheio de sorrisos
Onde a vaga que restava pra mim era do lado de fora

A indiferença sequestrou quem amo
E manteve o cativeiro com as portas abertas
Migalhas indicando o caminho de volta

Ele está do meu lado
E sinto tanta saudade

Voltou!

Me adicionou de novo a sua face
E a indiferença se foi
E borboletas fazem festa na minha barriga
Quando o reencontro

4 de fevereiro de 2017

Feliz dia do amigo de um aikidoca


Photo credit: AdamChandler86 via Visualhunt.com / CC BY-NC-ND



O sol, hoje, nasceu livre no meu amanhã
Sem precisar de coroa, nem de sistema
Contou até San

E dobrou os joelhos em seiza às margens da Via Láctea
Pra assistir meu eu aterrissar em mim mesmo

Ele anoiteceu no pico de meio-dia
Pra achar um atalho para o medo dos trovões e dos fantasmas
E ter uma desculpa pra se esconder debaixo de teus lençóis ]freáticos, erráticos]
Fez de um iriminage oportunidade de se pôr no horizonte do teu ombro amigo
E chorar o adeus de um farol

Para saber o gosto que tem o abraço humano
E o abraço brilhava inenarravelmente
Sem precisar de átomos ou de explosões
Por um instante, desviar deixou de ser o princípio básico do Aikido

Quando meu amigo chegou
No seu fusca
O sol sentiu-se ofuscado
Mas, aí, uma nota Fá disse: Ei, presta atenção
E o Só percebeu-se maior que a solidão

O sol maior percebeu que sua sombra
Era composta por ukemis que aprenderam a se reerguer
E soerguimentos que aprenderam a desaguar
A cair girando:
Girassóis sinceros
Prontos para sair da redoma

E dizer : Domo arigato, amigo, amado

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