20 de outubro de 2016

Um jeito cá novo de desejar Feliz Aniversário

Foto: Karla Vidal

Conheci um amigo de infância depois dos 30 anos,

Amigo daqueles que dá vontade de ter ao lado pra beber até ficar sóbrio

Ficou faltando o Feliz Aniversário dele pra iluminar as bênçãos que ele me inspirou a escrever na rocha

A luz das velas acendeu pela metade


Se o seu caminho sem volta precisar de um lugar para descansar,

Pode contar com meu abraço

Daqui a algum tempo, meu amigo, o teu Eu te amo vai corrigir os excessos do meu

E o meu Eu te amo vai acrescentar coragem e ousadia ao teu

Nas linhas da tua mão, nossos nomes estão gravados lado a lado.


Quando o teu nunca mais quiser parar pra tomar alguma coisa e botar a conversa em dia

Basta marcar com o meu  Sempre se Pode Recomeçar



18 de outubro de 2016

Um 19 de outubro sem impossíveis

Fonte da foto: Programa Salvando Árvores


De madrugada, a tempestade acordou chamando por mim

Doidinha pra me avisar que o destino e o acaso tinham feito um acordo de cavalheiros e deixaram que, neste dia 19 de outubro, todos os meus impossíveis entrassem em recesso e meus sonhos lessem no coração de São Tomé a senha automática de acesso à realidade

Desejei, de imediato, que durante 24h nascêssemos feitos um para o outro. Mas, esquecido que sou, ou, simplesmente, desacostumado a exercer a presunção, esqueci de desejar que não houvesse distância entre nós. Acabei gastando uma hora e meia do milagre pegando dois ônibus pra te encontrar

Mas, valeu a pena. No trajeto, comecei a olhar a linha do tempo do teu Facebook e pedi que a mudez das fotos fosse curada e que os detalhes desabafassem comigo o que sentiam

Numa das fotos, tua barba por fazer entregou que teu olhar tentava esconder a tristeza de não ter sido tirado pra dançar durante o baile de formatura

Mas ouvi risos que rimavam com o nascer do sol e com uma alameda onde se escondia tua coragem secreta de dizer Eu te amo

Fiquei crescente de felicidade  ao te ver com amigos, celebrando a vida. Pedi que tua imagem, numa das fotos, virasse de costas, só pra ver a liberdade raiando da porta dos fundos do teu coração

Mas, me vi submerso de tristeza, ao pensar que, provavelmente, não havia lugar pra mim na sinfonia de emoções que me acenava daquela linha do tempo

Enquanto arquitetava o exílio dos meus impossíveis, percebi que o atalho para tornar sonhos realidade era escravizar o direito à liberdade do outro. E como roubar de mim mesmo o que mais de ti me encantou?  

Você dançando com teus talvezes e inseguranças e aproveitando, enquanto teu medo da opinião alheia olhava para trás, para ficar me paquerando

Fui forçado a desapontar o milagre que me fora concedido. Disse até breve para o réveillon que havia antecipado para 19 de outubro e no qual uma leve discussão deixava o palco para que, meia-noite em ponto, nosso primeiro beijo entrasse em cena

O sonho mais difícil de rebobinar foi um em que o mundo libertava o amor de suas correntes. Mesmo de trás pra frente, aquela cena era inesquecível. Ninguém tinha receio, raiva, pena ou nojo de ver o sol poente escorrendo por entre as brechas de nossas mãos dadas

Alforriado, o milagre que me tinha sido dado de presente sorriu com os olhos e chorou com o sorriso

- Posso pedir que um último sonho se torne realidade?
- ... , respondeu o milagre.
- Quero não desistir de ter coragem de me reencontrar com ele

O milagre me explicou que não poderia atender meu desejo. Ele só era capaz de fazer sonhos se tornarem realidade. E o que eu queria era tornar a realidade um sonho

Antes de eu bater à porta, você perguntou: “Quem é?”

Confundi meu nome com um Eu te amo e tive de aguentar a realidade assando no rubor do meu corpo que, àquela altura, era só bochecha.

Mesmo assim, a campainha tocou, perguntando: “É errado sonhar?”

A porta se abriu e você perguntou: “Posso entrar?”


13 de outubro de 2016

Nossa Senhora do livre amor

Nossa Senhora da Uva
Fonte da imagem: História de Nossa Senhora


Nossa Senhora, pela tua intercessão,
Que não haja espírito, feitiço ou poder capaz de obrigar uma pessoa a amar
Ou a deixar de amar

Visita a liberdade de quem amo
Liberdade de convencer a insônia a tirar um cochilo
E o corpo solitário a dividir a cama com um amante
E acordar ao lado de um amigo

Desterra a vergonha e a opinião alheia dos nossos beijos
E que os abraços, sorrisos e silêncios sejam versões
Do vinho novo, que se bebe junto a quem se ama
E não na companhia do preconceito comentado

Virgem, que o amor seja livre para dar satisfação aos que se amam
E não aos que chegam ao clímax fazendo nexo com a frustração alheia
E serrando com as montanhas de recalque que cultivam em seu irrelevo 

Mãe, o vinho foi o segundo milagre de Cristo:
Porque o primeiro milagre foi tua preocupação com a felicidade humana




12 de outubro de 2016

Por que Renato Russo chamou Maria de Nossa Senhora dos Pedestres?


Arte e criação: Harry Firmo


Nossa Senhora tem milhares de denominações pelo mundo inteiro, dentre as quais o título Nossa Senhora Aparecida.  O compositor Renato Russo quis acrescentar mais um nome a este rol: Nossa Senhora do Cerrado: Protetora dos Pedestres, personagem que, junto a uma das amigas de Russo, a poetisa Noélia Ribeiro, contracenam na música Travessia do Eixão.

A proteção de Nossa Senhora dos Pedestres se faz realmente necessária para quem atravessa o Eixão, apelido do Eixo Rodoviário de Brasília (DF-002), uma das linhas que dá a forma básica ao Plano-piloto de Brasília (cidade em formato de avião), traçada de norte a sul da capital do Brasil e formada por seis faixas de veículos.

Segundo estatísticas do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), publicadas no Jornal de Brasília, em 2011 foram registrados 16 atropelamentos de pedestres na via, sendo um deles fatal. No ano seguinte, 30, sendo três deles com morte.  Em 2013, foram somente nove atropelamentos, porém todos fatais.

Na Região Metropolitana de Recife, também é preciso rogar pela proteção de Nossa Senhora dos Pedestres tanto nas vias urbanas quanto nas rodovias. Exemplos clássicos são a Agamenon Magalhães (Recife) no final do viaduto Capitão Temudo, altura do Hospital Português. Ali, atravessar é comparável a girar uma roleta russa.

Nem a morte de um juiz sensibilizou o Poder Público para construir uma passarela no local. Falo isso porque, no Brasil, a tragédia só deixa de ser ignorada quando envolve alguém que tenha dinheiro ou títulos em seu Curriculum vitae.

A BR-101 e a PE-15 também possuem pontos onde o pedestre é obrigado a disputar com os veículos o direito a chegar a seu destino. E, por descaso e desatino do Governo, ainda não se construíram passarelas, optando-se por arcar com os elevados custos hospitalares a resolver de vez o problema.

A postura equivocada do Estado ganha realce quando se analisa o sucesso de passarelas como a que foi erguida na Avenida Herculano Bandeira, perto da Igreja de Nossa Senhora do Rosário, pouco antes da Avenida Domingos Ferreira.

A música Travessia do Eixão faz parte do álbum Uma outra estação, último disco de estúdio do Legião Urbana, lançado em 1997, nove meses depois da morte de Renato Russo.



Utilizando a poesia para memorizar técnicas de Aikidô



Arte: Rute Patriarca




Alerta: Qualquer semelhança com acontecimentos reais é quase mera coincidência.


Lembro que quando estava pra fazer o primeiro exame de graduação do Aikido, minha dificuldade de decorar os nomes das técnicas fazia o Japonês parecer Grego

Então eu, cá com minha eterna faixa branca, pensei: vou utilizar a região criança-poeta (e, por que não louco-apaixonada?) do meu cérebro e, por meio de imagens poéticas, tentar facilitar a memorização das técnicas

Antes de mais nada, um prefácio:


  • Técnicas que têm por sobrenome “nagê” envolvem a projeção da pessoa sobre a qual a técnica é aplicada
  • Daí, por eliminação, as outras técnicas vão envolver a imobilização de quem recebe o kata (técnica)


Irimi Tenkan

É, poeticamente, conhecida como técnica da bandeja. O nagê (quem aplica a técnica) desliza rumo às costas do ukê (quem recebe a técnica) e, girando o quadril, desliza-se a perna para trás como se ela fosse um compasso que, girando, faz metade do mundo, isto é, um hemisfério. Ao fim, o nagê estará em posição espelhada com o ukê, sempre lembrando de manter os braços estendidos (dobrar ou tensionar os braços represa a energia do movimento),  oferecendo, de bandeja, o amor que se traz dentro de si.

Irimi nagê

O Irimi nagê, pode ser, poeticamente, associado com o verbo Dormir: “Dormir nagê”

Por meio desse kata, deslizo rumo às costas do ukê a fim de catar a cabeça dele e fazê-la dormir no meu ombro, enquanto giro como um compasso (o mesmo compasso que ajuda a desenhar o Irimi Tenkan), completando o poético desequilíbrio.

Depois, antes que o ukê tenha tempo de perguntar o que tá havendo, suspendo o queixo dele apoiando-o na dobra interna que separa meu braço do antebraço  e o levo ao chão. A música de fundo para esta técnica é o clássico sertanejo: “Encosta tua cabecinha no meu ombro e chora”.

Shiho-nagê

Eu, particularmente, elegi como imagem, para decorar o Shiho-nagê, a de um jogador de Baseball segurando o taco, preparado para receber o lançamento da bola.

Fazendo as devidas adaptações poéticas, o braço do ukê funciona como o taco. Depois de “rebater” a bola imaginária (a esfera de energia resultante da sinergia entre ukê e nagê), aponto o taco (braço) para o meu pé, deixando-o descansar: final da técnica.

Shomen uchi Ikkyo e Nikyo 

Pelo nome, percebe-se que não são técnicas de projeção. Pertencem ao grupo das técnicas de imobilização. Quem aplica o kata acompanha a pessoa que recebe a técnica do início ao final, onde acontece a imobilização

A poesia mais rudimentar me diz que “Shomen” é algo similar a “Tome!”, imperativo utilizado por quem se prepara para partir o outro ao meio com uma espada ou rachar o cocuruto do outro com uma tora de madeira, por exemplo

No caso da imobilização Nikyo, a versão urá (desenvolvida com um giro dado por trás do ukê) requer que o nagê abrace o punho do ukê contra seu peito, cumprimentando-o. Em seguida, finaliza-se a técnica com um Irimi Tenkan.

Katate dori Kaiten-nagê

É a técnica de projeção em que o nagê transforma o braço do uke num arco (tipo o Arco do Triunfo, na França), passa por baixo, fica em paralelo com o ukê e depois o projeta como quem arremessa uma bola de boliche, mantendo-o sempre juntinho ao corpo

A aplicação da técnica começa com um atemi, movimento que Wesley Safadão traduziu para o Português como “Olha aqui pra minha mão!”.

Na hora que o avaliador do exame solicita a técnica, penso logo no atemi, como se, na minha mente, enquanto aplico o atemi, eu dissesse ao uke: Cai!


Katate dori Kokyu-nagê

O nagê faz um Irimi Tenkan, colocando-se em paralelo com o ukê e, aí, projeta-o para frente com um giro de quadril. Dá pra diferenciar do Kaiten-nagê pelo fato de a técnica não requisitar o atemi (o imperativo mental: Cai!)

Katate dori Kokyu Ho

O princípio é o mesmo do Irimi Tenkan. Não é propriamente uma técnica de projeção. Também não é uma técnica de imobilização. Parece ser uma exceção, pois é finalizada com um movimento que imita o gesto de, com uma espada, dividir o tronco do ukê em duas bandas. Ao final, o nagê estará posicionado com as mãos estendidas, como quem oferece algo ao ukê numa bandeja.


10 de outubro de 2016

Dicas de um uke para um nage

Aikido Journal


Não existe texto definitivo
E não há porque se envergonhar dos rascunhos
Eles são o adubo do jardim da palavra

Não existe luta perfeita
A vitória é importante,se
Sabe que é o calçado,
Mas não o caminhante

Vai dar tudo certo
Respire e não hesite
Se houver algum erro,
Utilize-o como adubo de uma nova tentativa

Olhe rapidamente a dupla ao lado se a dúvida bater
E, em seguida, faça a sua parte e entregue seu coração por inteiro

Se não se lembrar do Japonês, diga Perdão e Obrigado e volte a lutar

Como queria ter participado
Da preparação para este sonho
Que logo será realidade

Este é só mais um de muitos inícios
Que a vida te prepara
Não se deixe embaraçar pelo olhar dos outros
Menos ainda pelo meu que é um dos apelidos da palavra amor
Quando preciso fingir que não estou te olhando
Te olho até cansar
Pela brecha da poesia

Não precisa se comparar
a ninguém
Porque o tempo de cada
Flor é único
Assim como o Aikido de cada pessoa
É único

Quando você tiver superado
Este desafio,
Todas as dificuldades farão sentido
Anjo desengonçado,
Conte comigo

Quem te vê de fora, nota que
Cada tentativa tua
Ajuda a lapidar uma estrela
Hóspede de uma joia rara

Lembra quando você aprendeu a cair?
Foi o mesmo momento em que apredi
Um jeito novo de me reerguer

7 de outubro de 2016

Transversos para "Mar cheia de graça"



Foto: Erika Lemay

Acho que não preciso pedir licença para escrever na linha do tempo de Mariana e acredito que ela vai curtir porque é uma típica libriana - elegante sem ser fresca. Todo amigo tem algo que irrita o outro e mais cedo ou mais tarde esse algo vem à tona.

Ela e eu sabemos o algo dela que me irrita. E espero que ela viva mais que Gandalf para ter tempo de me contar vários algos meus que a irritam. Como bom libriano com ascendente em gêmeos sou meloso, gosto de declarar o que sinto, mas fico rapidamente entediado e com vontade de me hospedar no cárcere privado de mim mesmo. Mas, a vida tem dessas coisas.

Nem sempre poderei estar onde e quando ela desejar, mas quando a coisa apertar pode contar comigo porque mais do que estar com quem gosto na farra estou quando "inverga" a barra. Goste ou não o namorado dela, vou dizer que ela é linda e intensa e se entrega, nunca desistindo de confiar que a confiança é possível ( e de fato é, pois é uma chama tênue e bruxuleante, mas capaz de exaurir o esforço dos ventos de moinho). Ela é muito do que já fui e ainda sou.

Em hebraico, Ana significa "cheia de graça" e no nome dela cheia de graça é o Mar: Mar cheia de graça: praticamente um mar travesti... Sei que ela não vai se importar com esta brincadeira porque ela é uma porta onde o preconceito e o machismo foram bater e tiveram que, em seguida, bater em retirada.

Mariana não tem medo de jantar com os fantasmas e, por isso tem muito a ensinar ao futuro. Também não discrimina a tristeza e, por isso, é um mar profundo. Mariana, ainda tem muita ponte pra passar por cima deste rio. Que bom vê-la amadurecendo e cada vez mais independente dos botes salva-vidas. Os momentos felizes sejam o disfarce predileto de cada novo dia. E que as ondas do teu Mar possam ser felizes dançando flamenco, treinando para ser nefelibatas.


A minha amiga Mariana Silveira




5 de outubro de 2016

Um poema a Clécio


Foto: Cláudio Eufrausino

Colômbia

Clécio, se minha falta de coragem tivesse mãos
tingiria de porta todas as invisibilidades
Só pra ter oportunidade de abri-las e ser gentil contigo
Gentil em sol maior

Amor, quando nossas coincidências
se cruzarem, se olharem nos olhos
Não sentirei mais vergonha de não ter vergonha de você
As rosas vão querer ser presente mesmo depois que o futuro deixar de existir

Não precisarei mais fingir que meu gostar de você é uma ilusão da tua cabeça
Nem andarei separado de ti como se sua proximidade fosse o cenário de um crime

Não te desabraçarei até você acreditar que só é digno de um protocolar aperto de mão
Te abraçarei eternamente por um minuto até que você se sinta à vontade para existir sem dó

Meu não responder a tuas mensagens e calar quando vens em minha direção
Não serão um escudo que protege meu nojo dos teus poros

Você não precisa ter medo de chegar perto de mim
Porque só tua mão pra deixar minha nudez à vontade

Estar contigo não é pretexto para furar a fila do DETRAN
Até porque quando estou com você o trânsito mais parado flui como um oceano alado

Você é convidado de honra para a festa dos meus segredos
Para deixar tuas pegadas nos meus passos de dança
Para fotossintetizar os jardins que planto dentro e fora de mim

Clécio, seu nome se escreve lindo
E se pronuncia amor

Onde quer que estejas
O nojo perderá o poder de se chamar hoje
E o acordo vencerá o não
Porque todo ser humano merece ver a Colômbia de sua alma em paz

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