10 de fevereiro de 2016

A quarta de cinzas e a carruagem que voltou a ser jerimum

Fotos de Karla Vidal

Fui um dos presos que recebeu indulto de carnaval
Minha fada-madrinha se chamava Aníbal e foi clara ao dizer
Que na quarta a carruagem se transforma em jerimum
E a clemência se transforma em cinzas

O acaso tentou promover nosso reencontro,
E quem disse que nenhuma ladeira de Olinda teve misericórdia?!
O descompasso não conseguiu colocar em marcha regressa
O bloco da saudade

Te amo nesse instante tanto e tão leve
Que fico embaraçado,
Grávido mesmo
Pronto pra parir o desapego que aflige
De alegria as franjas do cansaço

Recebo tantos não-telefonemas seus
Que o silêncio fez um calo na minha caixa postal 
Faz mal não porque estando com você meu coturno de cristal está em boas mãos

Um copo de frevo rasgado, pelo amor de Deus!
Porque a sobriedade, ás vezes, é tanta que o Dia do Juízo quer me condenar
Ainda de madrugada

Fiquem tranquilos, tambores
Não vou tocá-los
Nem pedi-los em namoro
Só quero ser acariciado por suas ondas sonoras

Porque hoje orvalho nada, sou pura graça

Não vou mais fazer amor com você em meu pensamento
Esqueça meu olhar insistente
Esqueça quão lindo és e ajuda meus olhos
A esquecer que são capazes de ver
Porque meu tato já está esquecendo que é possível tocar
Depois de três dias em que sou todo paladar


Agora, vou ali descansar a poesia
Antes quero pedir uma penúltima coisa:
Lembra-te de não desistir de mim ano que vem, carnaval

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