21 de janeiro de 2016

Um poema lindíssimo e modesto

Foto: Karla Vidal

Arabesco
Por Kenirdo Amã

Queria ter vontade de dizer que tenho vontade de ver teu rosto longe,
Onde a velocidade da luz desfaz a curva
Mas não é verdade
E você bem sabe
A verdade é a solidão que nos faz companhia na tempestade de oscilações e complexidades

Talvez, acordar sem a memória de dez vidas passadas fosse o suficiente
Pra não pensar em ti nesse momento
Lembrar-me de você algumas vezes por semana desentrava os trevos de quatro folhas
E escrever sobre o que sinto me ajuda a fazer companhia a mim mesmo

Neste mundo calamitoso, toda sorte e bênção pra ti
Você mente, mas diz a verdade
Tantas vezes ignora, mas é atencioso de um jeito que eu nem mereço
Obrigado

Cheio de pantim, alguns, misturados com um jeito incrível: uma receita com cheiro de distância
E sabor de proximidade
  

Roubei emprestado de uma amiga uma história pra te dar de presente: falava de uma pessoa que juntou todos os vinhos nascidos na data do aniversário dela pra lhe dar de presente

Pois bem, quero comprar todos os vinhos nascidos no ano em que você nasceu pra te dar de futuro
(Por enquanto, não vai ser possível porque meu cheque especial ainda pulsa)
  
Conto tantas coisas pra minha poesia
E quanto mais conto, mais secreto se torna o que sinto

O desabafo poético tem por função suavizar
Qualquer agressão, na poesia, flui através da palavra
Como uma imagem que escorrega em arabescos
No fim, a agressividade se torna leve
Até a leveza se torna leve
Só o desprezo nunca consegue ser leve
Por isso, todo desprezo que aparece em poesia é mentiroso

Praticar a indiferença não consigo: nem tentar
Porque sinto vontade de consolar teu nascer do sol
E apagar a ruga de preocupação na testa do teu crepúsculo

Me pego rezando pra que você que amo
Esteja imune a qualquer dardo da minha alma
E abro meu flanco
Sou atingido por meu próprio escudo
  escudo do medo
De que tenhas medo de mim
Estou cascavilhando nos sorrisos
Uma luz forte e singela
Pra acender-te cada vez mais a esperança

E ajudar teus faróis a não se perderem no oceano da existência.

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