12 de outubro de 2015

Carta sem remetente a Nossa Senhora

Nossa Senhora
Fonte: Ave Luz


Costumo falhar quando o assunto é fazer chegar minhas correspondências às pessoas que amo
Perdoe-me, Baudelaire!
Perdoe-me, Maria, pelas flores do mal que meu corassão sementeia a teus pés

Minto a idade, assisto pornografia esporadicamente, talvez,
Julgo precipitadamente (mas guardo os veredictos no compartimento secreto de meus bolsos)
Deposito poemas secretos na timeline do Facebook
Insisto em ter esperança de que serei amado por quem amo

Não sei como, diante de tantos senões, sinto-me convidado pela Senhora da Luz a
Cantar para ela
E quando eu canto a Salve Rainha, minha mãe te vê dançando, Nossa Senhora
Que honra sem tamanho,
Pois quero poder te presentear com a leveza da dança e ajudar teu coração imaculado
A esquecer por um minuto que seja as dores das espadas, o peso de, por amor,
Fazer-se nossa intercessora

Há quem dirá: “Diga Adeus aos intermediários”
Eu digo: Deus me livre e guarde
Obrigado, Mãe, por interferires com teu silêncio glorioso
Nos rumos da minha oração
Contigo, aprendo sempre que o silêncio orante é o supremo alicerce da poesia

Tenho certeza de que Deus não se importa de seres chamada Mãe de Deus
Porque ele não é tacanho e ele quis que os seres humanos fossem co-artífices da redenção
E tu és sempre tão humana, errante, peregrina, mais que padroeira, refugiada em tantos países
Chorando com as mães os filhos mortos paridos pelo mar sem fim
E os desaparecidos ocultos neste fim sem mar

Rainha, tu que vences o dragão, intercede para que nenhuma Drag Queen seja assassinada
Por algum infeliciano
E para que nenhuma criança seja apedrejada por, em vez de te chamar de Maria, te chamar de Iemanjá
Rainha do novo mundo,
Tu, que aceitaste o risco de seres chamada de prostituta e apedrejada
Para que chegasse à terra Aquele que ensinaria a esperança a germinar dos corações
Rainha porque teu manto recobre virgens e putas e divorciadas e transexuais: homens e mulheres: humanos

Sempre soube que existias, antes de saber quem eras
Porque ajudaste os tiros que, sem pedir licença, entravam em minha casa,
A desistir de nos matar
Intercede, mãe, pelas futuras vítimas de balas perdidas
Pelas crianças perdidas
Por Peter Pan

Agora e na morte de nossa hora

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