21 de janeiro de 2015

O primeiro beijo "sacrílego" da TV

Foto ilustrando cena da novela A Estranha Dama, exibida pelo SBT na década de 90


Reescritura da postagem escrita em 24 de abril de 2012


Revendo as postagem deste blog, deparei-me com uma, procurada constantemente pelos internautas. Trata-se de uma reflexão sobre o primeiro beijo "sacrílego" da teledramaturgia, ocorrido na novela argentina A Estranha Dama, do final da década de 80 e que foi exibida no Brasil pelo SBT, no início da década de 1990. A postagem  trazia um vídeo mostrando a cena do dito beijo. Como este vídeo foi deletado da conta do Youtube, a postagem ficou capenga. Para resolver o problema, a equipe do Acedia decidiu reeditá-la, inserindo, novamente, o vídeo que mostra o primeiro beijo sacrílego, acontecido numa novela.

A Estranha Dama destoa das novelas latinas, pejorativamente colocadas no mesmo balaio sob o rótulo de "novelas mexicanas".Fez sucesso em muitos países e ganhou o maior prêmio da televisão italiana, o Telegatto. Trata-se de uma produção com fino acabamento, rodada em película e baseada na história de Lucy Gallardo, discípula do mestre em cinema Luis Buñuel. E realmente, o enredo de A Estranha Dama é surreal, no melhor sentido do termo.  

É uma novela que, apesar das limitações do gênero folhetinesco, como o maniqueísmo, a síndrome do final feliz e a heroica assepsia dos protagonistas, ousa em muitos aspectos. Relata a história de Gina Falconi, que, prestes a morrer, viu-se forçada a deixar sua filha recém-nascida, batizada com o nome de Fiamma, aos cuidados do pai, chamado Marcelo Ricardo, um homem que preferiu se casar com outra mulher, movido por interesses financeiros e pelo status. Porém, Gina, milagrosamente, recupera-se da doença e, considera que o melhor para sua filha seria viver em boas condições ao lado do pai. Gina opta, então, por seguir a vida religiosa.

Anos depois, quando Gina já é madre superiora, ela reencontra a filha, que foi obrigada pelo pai a ingressar no convento por não querer abrir mão do homem que amava, o qual, aos olhos do pai de Fiamma, deveria se casar com a irmã de Fiamma, para que fossem unidas as fortunas das duas famílias e o status fosse preservado, visto que Fiamma, para todos os efeitos, era filha “ilegítima”, pelo fato de ter sido adotada. Vale lembrar que o cenário de A Estranha Dama é o início do século XX, onde a ideia de "filho bastardo" ainda era motivo de preconceito e de discriminação perante a lei.

Para tentar salvar a filha da obrigação de se tornar freira, Gina resolve encontrar-se com o homem que amou no passado e que a havia desprezado. Ela tentará enternecê-lo, fazendo-o se apaixonar. Para isso, a freira aproveita o horário da noite, veste-se com roupas de uma refinada dama, maquila-se e sai às escondidas para festas promovidas por membros da elite e frequentadas por Marcelo Ricardo. O objetivo é que, depois que Marcelo permitisse o amor de Fiamma e Aldo (o enamorado de Fiamma), Gina simplesmente desapareceria. De início, Marcelo não a reconhece e todos se perguntam quem seria aquela dama de hábitos estranhos.

Antes mesmo da polêmica em torno da liberação do beijo gay na TV brasileira, esquece-se que a novela A Estranha Dama, muito antes, já causou polêmica ao exibir o primeiro beijo entre uma freira (na verdade, uma noviça) e um rapaz. Foi talvez o primeiro beijo “sacrílego” em uma novela. Acontece quando Fiamma está nas vias de prestar os votos para se tornar freira. Nesse momento, seu amado Aldo aparece...



Veja a cena, a seguir:

13 de janeiro de 2015

Primeira poesia erótica de Jose Luis Paredis



Arte: Paulo Stocker


Orgasmático
Por Jose Luis Paredis

Quero que tua libido sequestre todos os meus poros e que ela seja como um metamorfo que, ora é abraço e, antes de perceber já será beijo e tua respiração rastreará:

com a mão direita escreverá em meu corpo pornografias inconfessáveis
com a esquerda desenhará os mais doces silêncios, os gritos mais gentis
com a mão ambidestra lamberá com línguas de fogo o cangote do meu espírito e pendurará um brinco
de gozo na ponta da minha orelha

Tua safadeza será um desertor convidado para fazer das minhas zonas erógenas campo de batalha, território santo. E serei duplamente penetrado: por teu "Vou embora" e por teu "Quero ficar". E tua indiferença reveza-se com tua entrega como se o sopro do ártico e o do Saara disputassem uma vaga de trabalho em minha genitália ou um bico em meu mamilo, que, a esta altura, é tanto êxtase que não sabe mais se é direito, esquerdo ou ambidestro. Aprenderemos juntos que o gozo não é a dádiva medíocre do finalmente. É mais e maior quando embebido em nossos mistérios (Foi Marilyn Monroe quem disse), em nossos aindas e talvezes.

Tenho vontade de te visitar quando estiveres gripado e drenar com meu sexo toda a tua febre até que estejas livre e tua correnteza descanse no meu abraço-concha. 

12 de janeiro de 2015

" Je suis Charlie, quando me convém": sobre a relação entre liberdade de expressão e conveniência




Em algum de seus escritos, o filósofo Hegel descreve a liberdade como o polo solitário que a razão tenta alcançar com seus braços. A liberdade nunca é plenamente experimentada e, como lembra Peter Sloterdijk, experimentar a plenitude da liberdade seria desfilar iludido, preso na gaiola de vento da conveniência redentora.

A liberdade de expressão tem se mostrado liberdade blindada por certa dose da onipotência, seja ela a onipotência dos ominipotentes proprietários do status quo ou a onipotência dos impotentes. Sim, porque as minorias têm podido usufruir de cotas de onipotência ancoradas em seu grito de lamento. 

E, talvez, o medo (o jovem mais velho sobre a face da terra) da onipotência impotente, esta invenção do século XXI, seja o que vem causando reações que fazem a contemporaneidade abrir brechas no tempo-espaço por onde escorrem repetições trágicas e farsantes de impulsos genocidas que os iluministas sonharam ter destruído pela força da razão. Mas, a guerra provou que o ideal das luzes podia ser tingido de sangue e que o Humanismo, por mais boas intenções que tivesse, era capaz de se converter em seu extremo oposto.

Diferentemente da Bíblia, a história tem provado que o Apocalipse não é um fim absoluto, mas sim um fenômeno cíclico e os terrores apocalípticos não se anunciam por meio de trombetas ou do romper de selos: chegam silenciosamente.

Charlie tem direito a dizer tudo o que deseja, mas tantos eu-te-amos têm permanecido calados com receio de ser condenados a um fuzilamento cujo paredão é a solidão existencial e, as balas: antigas promessas corroídas pelo preconceito.

Poderá a manchete da Charlie ser “Shopping premia o melhor selfie de Rolezinho em 2014”? Ou “Heterossexuais e Homossexuais podem se paquerar livremente sem ser postos em quarentena”? Ou, talvez, “Minha Casa Minha Vida oferece vagas no Condomínio Pequena Estela”?

A Liberdade tem o dom de mobilizar a razão, mas também é empurrada para o exílio pelos ventos da desrazão. E nossa época ainda não percebeu que a desrazão é como um sistema de vasos comunicantes no qual a violência em grande escala está diretamente ligada a violência de “pequenos gestos”. 

O lema “Eu sou Charlie”  aponta para a necessidade de observarmos quando a liberdade de expressão corre o risco de se igualar á pura e simples conveniência, um espasmo que, ao sabor das ondas do mar morto da hipocrisia, crucifica o Islã e silencia o Terrorismo cotidiano que atenta contra os direitos fundamentais de sobreviver, ter acesso ao conhecimento e andar de mãos dadas em público, independentemente de cor, credo ou orientação sexual. 

Fórmula da conveniência: "Defendo até o fim o direito de dizeres o que quiseres, desde que eu concorde"

Onde buscará refúgio nosso tempo quando se libertar do jugo ancestral da onipotência: seja ela expressa por meio da dominação dos grandes ou do poderio dos pequenos? Fico devendo a Bob Dylan a resposta à sua pergunta sobre quantas bombas precisam explodir ainda antes que se fechem as cortinas do absurdo teatro da onipotência.


PS.: O Ebola não precisa se espalhar porque as pessoas já têm se deixado tornar reféns da doença ao transformar tudo que foge do seu horizonte de aceitabilidade em vírus a ser combatido pelo remédio da intolerância.

افتقد حبي ، G. أندريه !

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