25 de dezembro de 2014

Natal Crônico: quando um paparazzo clicou Deus embriagado (de amar)

Plar Olivares - Reuters

Natal Crônico

As cicatrizes estão se redesenhando
Como um quadro que exculpe o coração do pintor
Peguei carona em flocos de neve semi-árida
E minha alma cresceu, germinando asas diamantinas
No solo dos abismos transplantados, ex-jorrantes
Despedi-me do ouro, do incenso e da ira
E decidi crescer, tornar-me carpintor
O perdão tem adquirido lindos contornos:
Talhado nas ondas, pouco a pouco assume-se oceano profundo

O beijo que fugiu dos escombros de meu abraço
Sentiu-se feliz ao compreender que, por mais impetuoso que seja
Só será invento quando deixar em paz o sono das portas fechadas
E brindar o encontro de janelas pousadas nas asas abertas do sol horizontal
De amigos que correm sem vergonha de ser lado a lado
Como íntegros corações incertos escritos por linhas aortas

O Natal foi tão Natal esta noite
Que o menino-deus nasceu e ressuscitou de uma tacada: e ninguém ficou só.

Tanta gente que se ama se encontrou para ficar sem assunto
E não ter o que dizer era doce à sombra daquele tsunâmico aconchego
A paz continuava escarpada por temores, por procurações assinadas por preconceitos antigos
Mas, mesmo havendo passado 2014 anos, o rosto da porta estreita continuava com aquela lindeza agreste da Galileia
E quando deu meia-noite, minha esperança tocou a cigarra
Berlim sem Muro foi quem veio atender
E, vá entender o amor, Arlequim!
E todo pastor do deserto teve direito a três taças de Espumante
E o Gênio só tinha um único desejo: que as garrafas todas fossem implodidas
Que os homens-bomba mudassem de ideia
os radicais desdegolassem os filhos: das mães, que ainda choram

E Deus, como bom pai babão, se embriagou da espuma do amar

E acendeu um charuto costa-riquenho para celebrar o nascimento de seu bambino.



11 de dezembro de 2014

Feliz Ano Novo antecipado


Feliz Ano Novo antecipado
Por Jose Luis Paredis

Na orla da tela do computador, duas janelas se revezavam:
Uma em homenagem a Nietzsche, outra em homenagem à pornografia
Ambas as janelas igualmente obscenas.
Tive de deixar o Eu te amo do lado de fora, ao relento
Porque os Eu te amos não nos ajudam a caber na roupa (in)justa da normalidade
Sonhei em fazer a contagem regressiva para o Ano Novo, ensaiando um tango entre nossos dedos mindinhos
E o resto de nossos corpos seriam consagrados à safadeza com intervalo para carinhos doces imitados do quebrar das ondas
Quando fores bater à porta do Feliz Ano Novo que não me desejaste e do Feliz Ano Novo que, talvez, não me darás,
Arromba-me a porta da mágoa e encurrala-me até eu não poder mais escapar de teu olhar cabisbaixo
Quer continuar a ler, livre-arbitre-se
Não quer, dane-se pro Céu


Mas antes de choveres teu nojo e tua vergonha em cima de mim
Me deixa ligar o guarda-sol
Peço a Deus que enguice todos os boatos maledicentes que sopram em teus ouvidos-mente
Inclusive o boato de que às terças e quintas sou psicótico e às sextas bipolar
Desmagnetizem-se os polos Sul, Norte e ES sudoeste,
Pois gosto de ti pelo que és.
De verdade
E todo exagero meu, o peso
Se desmentem diante da leveza da verdade do que sinto.






7 de dezembro de 2014

O primeiro bloqueio no Facebook : a gente nunca ex quer ser



A seguir, o relato de uma pessoa que experimentou, pela primeira vez, como é ser bloqueada no Facebook.


Não entendo porque o símbolo de “Bloqueado” no Face é um polegar de ok enfaixado, tendo em vista que depois de ser bloqueado, pela primeira vez, quem ficou doendo mesmo foi meu cotovelo. Mas, se seguirmos a risca a origem da expressão “dor de cotovelo”, ela não é a mais adequada. A timeline não é uma mesa de bar onde os bloqueados ficam com o cotovelo apoiado, chorando dores de amores perdidos.

Entre as origens da palavra ok, a mais plausível é aquela apontada por um antigo professor de Inglês que tive na Cultura: ok, do grego olla kalá, significando “tudo bem”. Mas, existe uma origem menos plausível, mais poeticamente mais rentável. A palavra ok teria sido concebida nos alojamentos militares da Guerra Civil Americana e siginficaria “0 killed” (zero mortos), o que por tabela significava “tudo joia”. Mas, devo dizer que meu O.K. está realmente machucado e que, entre mortos e feridos, salvaram-se quase todos, menos este que escreve. Mas, fico feliz em anunciar que estou ferido, mas não morto.

A ocorrência - Durante toda a era cristã, bloqueei duas pessoas no Face. Uma foi um sujeito que me assediou moralmente (assédio moral = valer-se da posição hierárquica superior para constranger outra pessoa. Não confundir com assédio sexual).

A outra vez que usei a ferramenta de bloqueio foi para tentar me desapaixonar. Apostei na ideia de que se minha indiferença fosse maior do que minha saudade, conseguiria seguir adiante. Afinal, hoje em dia, a saudade parece loucura e a indiferença a condição normal.

Esse segundo bloqueio durou incríveis 23 horas.  Senti falta de digitar a primeira letra do meu amor platônico e ver sua foto de perfil em miniatura.

Finalmente, chegou o momento de eu provar meu próprio remédio-veneno: fui bloqueado. Agora, de certa maneira, não faço parte do mundo, mas mesmo assim com os pés e mãos bloqueados, planejo ir pra um SAMBÃO amanhã na República dos Cães sem Dono.

Pausa para um parágrafo desnecessário: Dizem que, na era da informação, o tempo ideal para rever uma pessoa é um ano, porque, assim, dá tempo de se fazer algum grande feito e não correr o risco de estar à mesa com o amigo e cometer o crime hediondo de ficar em silêncio por falta de assunto.

Todo nunca mais é um tipo de armadura. E tenho usado e abusado dessa armadura, por medo de ser alvo da indiferença. Por que faço promessas ao sempre e ao nunca, se não as posso cumprir? Como devo dizer que gosto de quem me bloqueou se minha mensagem não terá mais direito nem a um “vizualizado”?

Descubro, ao sentir na pele o bloqueio do Face, como é difícil virar EX: ex-marido, ex-namorado, ex-amigo, exilado.


Não sei de onde vem essa bendita síndrome de Estocolmo congênita, que me faz sentir vontade de abraçar o algoz bloqueador. Dizem que outro motivo de bloqueio é o medo, mas rezo todo dia antes de dormir para que meu bloqueador tenha coragem de não ter medo. Não existe Brasil para refugir o triste 1808 que está crescendo em mim após esse bloqueio continental imposto por aqueles napoleônicos olhos cor de vaguidão específica. Contudo ou nada, a maior loucura que posso cometer nesse momento não é imitar Napoleão, mas sim imitar um apaixonado e ficar torcendo pra que o império napoleônico caia e eu possa ver em minha caixa de mensagens um “oi” todo republicano ou um anárquico “senti sua falta”.

29 de novembro de 2014

Chaves e a ingenuidade crítica



O seriado Chaves é um exemplo de ingenuidade crítica. É um desfile de tipos que beiram o clichê, de gestos e bordões repetidos. Mas a genialidade desta obra de arte está em se vestir com esses elementos e, mesmo assim, exibir a elegante nudez de um agudo senso crítico.

Roberto Bolaños, criador da série e intérprete do personagem principal – Chavo Del Otcho – foi criticado pelo fato de ter negado a seus colegas de trabalho (particularmente os atores que representavam Kiko e Chiquinha) o direito de usufruir dos direitos sobre os personagens que representavam. Porém, a despeito disso, é difícil questionar seu talento artístico e empresarial. A exemplo de Chaplin, Bolaños foi criador de todos os personagens, dos enredos e também atuava e dirigia. Além disso, suas histórias trazem referências a clássicos da Literatura como Dom Quixote e das artes plásticas como Leonardo da Vinci.

Chaves escapa da leitura rasteira do marxismo e revê a noção de luta de classes. A obra demonstra que o poder dominante é sustentado pelos conflitos que ocorrem no interior da própria pobreza. Isto é comprovado pelos jogos de dominação entre os habitantes do cortiço do Chaves. Perspicazes, os personagens fazem de suas ignorâncias e imperfeições ponte para reviravoltas inteligentes e desconcertantes. 

Como ocorre com a Turma do Charlie Brown, Chaves trabalha brilhantemente a oscilação entre ingenuidade e crueldade. O riso em Chaves destrona o status quo e revela como, em plena modernidade, os corações humanos, independentemente da classe social, são atravessados pelos dilemas e mesquinharias do feudo, do castelo, do condomínio e também da periferia.
Algumas sacadas extraordinárias do seriado Chaves:

Seu Madruga é questionado por um policial sobre o pagamento de impostos
- É claro, policial, nunca deixei de pagar meus impostos. Sou um homem honesto.
- E o senhor paga mesmo todos os seus impostos, todos eles?
- Eu disse que sou honesto, mas não sou fanático.

Chaves ri de se acabar ao contar para o professor Girafales um caso em que encontrou a avó de Chiquinha espumando pela boca
- Veja que burrice. Ela ficou espumando porque comeu um pedaço de sabão, pensando que era queijo.
- E por que você não avisou a ela?
- Porque eu também estava com a boca cheia de espuma...

Chaves se assusta ao ver Chiquinha usando uma máscara de monstro
- Chiquinha, tira essa máscara!
Enquanto Chaves se distrai, Chiquinha tira a máscara. Ao voltar novamente a atenção para a amiga, Chaves comenta
- Eu já disse pra você tirar essa máscara!
- Mas eu já tirei..., retruca Chiquinha desconsolada.

18 de novembro de 2014

Ato falho e ética jornalística: a reportagem sobre a primeira foto de um ser humano que, segundo o site Mashable, " estava recebendo os serviços de um engraxate"

Fonte da imagem: Mashable.com


A princípio, me empolguei com a “novidade” resumida pela manchete “Primeira fotografia que um ser humano aparece foi tirada em 1838”, publicada no blog Matheusleitao.com.br.

Porém, ao começar a ler a reportagem, qual foi meu espanto ao ler o seguinte trecho:

“O site especializado em tecnologia Mashable publicou nesta semana uma fotografia que, até onde se tem conhecimento, é a primeira em que um ser humano aparece.

Tirada em Paris, França, em 1838, por Louis Daguerre, a pessoa fotografada está de pé no canto inferior esquerdo, na calçada. Parece estar recebendo o serviço de um engraxate, que limpa suas botas.”

E me perguntei: Como assim “a pessoa fotografada parece estar recebendo o serviço de um engraxate, que limpa suas botas”?

Meu espanto se confirmou ao saber que a notícia deriva de uma “original” publicada no site de tecnologia Mashable.com. Na notícia original, o preconceito é mais gritante, pois nem sequer se menciona a profissão do engraxate presente na imagem. Simplesmente se diz que na foto “o ser humano em questão” está tendo suas botas engraxadas. Confira o trecho em inglês:

“This picture, the earliest known photograph to include a recognizable human form, was taken in Paris, France, in 1838 by Louis Daguerre. The human in question is standing in the bottom-left of the photograph, on the pavement by the curve in the road.  He is having his boots shined”.

Este caso aponta para um duplo questionamento ético, relativo à ética jornalística e também à ética do tradutor. Certamente, o jornalismo atual, com suas equipes reduzidas e pressionado pelo mercado, pelo tempo, pela sede humana por crueldade, é um alvo fácil de preconceitos recônditos passíveis de aflorar através de atos falhos como o cometido nas reportagens mencionadas. Arrisco-me a resumir a noção freudiana de ato falho: erro, geralmente expresso em confusões na fala ou na escrita, que resulta do conflito da psique entre o seu compromisso com o consciente e a pressão de conteúdos reprimidos pelo inconsciente. Segundo Freud, o ato falho está dentro dos limites da normalidade, é algo de fácil correção e que não é reconhecido como tal por quem o comete.

Porém, independentemente do atual cenário do Jornalismo, pode-se dizer que a ética sempre foi desafiada por pressões de diferentes ordens. Por este motivo, reconhece-se uma postura ética em momentos cruciais como guerras e calamidades. O ser ético está muito ligado à máxima presente no livro bíblico do Eclesiástico: “É pelo fogo que se provam o ouro e a prata”.

Entenda-se: ao citar a Bíblia não quero igualar ética e moral. Longe disso, pois a independência da ética é que permite à sociedade enfrentar os danos da Moral, quando ela se deixa levar pela inércia e pela intolerância. Ao falar sobre ética jornalística, refiro-me ao cultivo da habilidade de confrontar as certezas do proceder jornalístico com a burrice que - por força da preguiça, comodismo, tédio, arrogância e ansiedade – tende a coroar nossas mais caras certezas. Ética é o questionamento que habita a fronteira entre nossas certezas e nossas incertezas.

Então, ao parafrasear um texto, preciso colocar na mesa tanto as cartas de minhas certezas quanto de minhas incertezas, o que inclui duvidar do que minha certeza me diz. Por força de preconceitos arraigados (dos quais ninguém escapa, nem mesmo Robson Crusoé ou os habitantes da República de Platão), podemos cometer atos falhos como o das matérias mencionadas. Cabe então ao jornalista, revestido pela ética profissional, colocar suas certezas sob suspeita. Isso vale para outras situações como a reprodução do que os entrevistados dizem. As aspas, no texto jornalístico, são um grande atestado de ética. Desafiam o jornalista a retomar um original que nunca mais será de fato o original, pois é filtrado pelos valores do repórter e pelos vazios do esquecimento.

Contudo, o compromisso de ser fiel ao original, por mais utópico que pareça não perde sua validade. Isso porque a utopia - o inalcançável - tem efetividade histórica justamente porque nos impulsiona a rever e questionar os parâmetros do possível, do real.

Ao continuarmos a leitura do texto da Mashable, percebemos que ele caminha para uma revisão do seu infeliz início, ao mencionar que a imagem traz mais pessoas, sendo que elas só se tornariam visíveis por meio da aplicação da ferramenta Zoom à fotografia. De qualquer maneira, tanto no texto em inglês quanto no texto em português, a informação que ganha maior ênfase é atravessada pelo ato falho, que só será abrandado bem mais adiante.

A notícia se deixa pautar pelo ato falho de preconceito e transforma a informação correta num apêndice. Isso gera, inclusive, uma falha de apuração jornalística, pois somente ao final da reportagem (da Mashable), tomamos conhecimento de que a fotografia foi feita de uma rua cheia de gente, mas que a imagem dessas pessoas não foi captada pela câmera.

Bem, independentemente de juízos de valor, as reportagens da Mashable e do blog MatheusLeitao careceram de uma revisão não só textual, mas ética.

Veja os textos publicados

Pela Mashable

Pelo blog Matheusleitao

15 de novembro de 2014

Existem outros Lanternas além do Verde: a Rosa dos Ventos não se resume à oposição entre Norte e Sul


Fonte da imagem: Legião dos Heróis.uol


Li recentemente um texto criticando a tradução, consagrada pela tradição, do juramento da Tropa dos Lanternas Verdes, cujo exemplar mais conhecido é o personagem Hal Jordan.


O texto critica o fato de a expressão “Blackest Night” ser traduzida como “Noite mais Densa”, chamando atenção para o fato de que a noite não tem espessura e, por isso, não pode ser considerada densa. Isso seria verdade, se a poesia fosse pautada pelos atributos físicos da realidade. Mas, como admite o filósofo Hegel, o lócus da poesia é justamente onde a realidade se despe de seus atributos físicos. É como se houvesse uma gradação:

  • A Arquitetura dá conta de traduzir em arte o que há de mais físico: o espaço
  • A pintura, cujas tintas estão entre a matéria e a luz, traduz em arte a fronteira entre o físico e o ideal (o que existe no plano da ideia, algum lugar entre mente e espírito)
  • A música é uma forma de arte oscilante entre o mundo do espírito-mente e o mundo da materialidade mais tênue: a vibração dos sons
  • A poesia é uma expressão artística cuja matéria-prima é o próprio espírito-mente

Portanto, no território poético, no terreno da mente-espírito, a noite possui, sim, densidade.
Mas, o motivo dessa postagem não é discutir sobre Traduções, mas sim sobre Tradições. As tradições são importantes porque representam o alicerce da cultura. Sem esse alicerce até mesmo o edifício das transformações não tem como ser erguido.

Mas, como é sabido por quem bem o sabe, a Tradição pode se deixar envolver pela inércia, pela cegueira e outros valores que não são bacanas.

Fico me perguntando, como os leitores de quadrinhos ficaram tanto tempo sem questionar: Já que existe o Lanterna Verde, onde estão as Lanternas das demais cores? Questionamento ainda mais pertinente se levarmos em conta que o Verde, tradicionalmente cor da esperança, foi dedicado a uma lanterna que representa a Força.

E durante muitas décadas, ficamos acostumados a ver o mundo dividido entre a Lanterna Verde (Força, força de vontade, mas Força) e a Lanterna Amarela (Medo).

Só em 2009, a editora americana DC Comics desenterrou dos arquivos ocultos do imaginário as demais tropas de Lanternas, honrando o espectro visível do Arco-íris. Foi uma verdadeira reviravolta à Nietzsche.  A Esperança ganhou sua Lanterna, de cor Azul, e também ganhou um juramento próprio. Cada sentimento pode achar lugar no espectro das luzes. E foi que o predomínio dos Lanternas Verdes, representando Força e Razão, se deveu ao fato de as demais Lanternas, representando as emoções, terem sido banidas, relegadas ao esquecimento.

A dupla Força (Lanterna Verde) versus Medo (Lanterna Amarela) demonstra o cultivo, na cultura ocidental, de uma herança iluminista, que enxerga o mundo regido por dicotomias (Bem e Mal; Luz e Trevas; Macho e Fêmea, Norte e Sul; Direita e Esquerda; PT e PSDB; Caviar e Pipoca, etc.).

A saga The Blackest Night, ao apresentar as Tropas de Lanternas em todos os seus nuances de cores, rompe a herança funesta do dualismo e nos devolve a noção dialética de que o cosmos está alicerçado não na oposição dicotômica e estanque de sentimentos e valores, mas sim na fluidez de tonalidades. Com isso, podemos dizer que o alicerce não perde em firmeza ao assumir que é composto por força e medo, mas também por amor, raiva, esperança, morte, compaixão, avareza. 

E todos esses valores juntos e em movimento conduzem à luz branca da Vida (com V maiúsculo). Um alicerce não é fraco por ser multiperspectivo. Contrariamente, é fraco quando preso à inércia e à rigidez, ficando impossibilitado de enfrentar os terremotos. Os japoneses sabem bem disso: o alicerce é forte quando capaz de incorporar em sua estrutura a oscilação, a absorção de impactos.

A saga The Blackest Night, que culmina em outra chamada The Brightest Day, tem algo a nos ensinar sobre a tendência reacionária e tosca de reavivamento das oposições dicotômicas, como ocorreu no Brasil no episódio das Eleições Presidenciais de 2014, onde muita gente quis resumir o País a uma oposição fajuta entre o pontos cardeais Norte/Nordeste e Sul, ignorando a complexidade e beleza das pétalas colaterais da Rosa dos Ventos.

Conheça as Lanternas, em particular, aquelas que vão além da Verde e da Amarela. As informações e imagens abaixo foram extraídas (com adaptações) dos blogs Legião dos Heróis.uol e Vício Nerd.blogspot :



TROPA DOS LANTERNAS VERDES


A polícia intergaláctica, a tropa que protege o Universo inteiro independente de qual seja a ameaça.
Cor: Verde
Emoção: Força de vontade
Membros Notórios: Hal Jordan, Guy Gardner, Abin Sur, Kilowog.

Poderes: carregando a luz verde do espectro emocional, os Lanternas Verdes são capaz de criar construtos na forma que quiserem e imaginarem. Os poderes dos anéis também deixam seu portador voar e construir campos de força.
Fraqueza:  dificuldade de usar seus anéis contra o espectro amarelo do medo.


Juramento:

“No dia mais claro, na noite mais densa
Nenhum mal escapará à minha presença

Todo aquele que venera o mal há de penar

Quando o poder do lanterna verde enfrentar.”


“In brightest day, in blackest night,
no evil shall escape my sight
Let those who worship evil's might,
beware my power…GREEN LANTERN'S LIGHT!”




TROPA DOS LANTERNAS VERMELHOS

A vingança dentro do Universo, a ira necessária para punir os inimigos.
Cor: Vermelho
Emoção: Ira
Membros notórios: O líder Atrocitus, Dex-Starr, Ratchet e Skallox.

Poderes: Enquanto houver ódio presente, a chama vermelha queima, mesmo no vácuo do espaço. O anel provê voo, campos de força e comunicação.
Franquezas: Como o vermelho fica no periférico do espectro emocional, os Lanternas Vermelhos são incapazes de pensarem com clareza ou mesmo de serem racionais. Eles raramente falam, a não ser por seu líder Atrocitus. O anel azul da esperança pode extinguir a chama vermelha.

Juramento:

“Com sangue e ira de um vermelho ardente
Arrancado à força de um cadáver ainda quente

Somado ao nosso ódio que arde infernal

Queimando a todos

Eis o destino final!”




TROPA SINESTRO

Capaz de induzir grande medo em todos, a Tropa é comandada pelo que já foi o maior Lanterna Verde de sua época: Sinestro.
Cor: Amarelo
Emoção: Medo
Membros Notórios: Sinestro, Amon Sur, Arkillo.

Poderes: Como os anéis verdes, o amarelo é capaz de criar construtos na forma que quiserem. O poder dos anéis também dá voo, campos de força e comunicação.
Fraquezas: A transmissão e poder do anel de Sinestro pode parar de funcionar na presença de um Anel Azul. 

Juramento:

"No dia mais sombrio, na noite mais brilhante,
sinta seus medos se tornarem uma luz cortante.

Todo aquele que o correto tentar barrar

arderá em chamas quando o poder de Sinestro enfrentar."




SAFIRAS-ESTRELAS

Protetoras do amor, buscam alcançar o mais profundo de seus corações para revelar seu mais puro sentimento.
Cor: Violeta
Emoção: Amor
Membros Notórios: Carol Ferris, Vaqueira.

Poderes: Os aneis das Safira-Estrelas alcançam o profundo de seus corações para revelar seu mais puro amor. O anel também consegue captar amores perdidos e levarem uma Safira Estrela à sua ajuda.
Fraquezas: Devido ao fato do espectro emocional violeta estar no fim do espectros, uma Safira Estrela tem seus pensamentos seriamente alterados.


Juramento:

“Pelos corações perdidos e cheios de horror

Que na noite mais densa choram solitários de dor

Aceite nosso anel e ajude a combater o terror

E a tudo conquistar com a Luz Violeta do Amor”


TROPA DOS LANTERNAS AZUIS

Surgiu como uma Tropa de apoio à tropa dos Lanternas Verdes. Só entram em combate quando os Verdes estão por perto, que assim os anéis deles estão liberados. Sem o Verde perto, o Lanterna Azul ainda pode voar, respirar no espaço e possuem habilidade curandeiras milagrosas.
Cor: Azul
Emoção: Esperança
Membros notórios: Santo Andarilho, Irmão Warth, Irmão Hymn e Irmã Sercy.

Poderes: Os anéis azuis criam construtos que atingem o alvo baseado nas esperanças do inimigo. Lanternas Azuis são capazes de criar sóis azuis que brilham à noite. Como outros anéis, os deles também provêm voo, campos de força e comunicação. O anel azul recarrega um anel verde e descarrega um anel amarelo.
Fraquezas: Sem trabalhar em conjunto com um Lanterna Verde por perto, o anel do Lanterna Azul só permitirá voo limitado.

Juramento:

"Com os corações cheios de forçanossas almas se acendemquando 
tudo parecer perdidona guerra da luzolhe
 para as estrelas para o brilho da esperança que reluz."

In fearful day, in raging night,
With strong hearts full, our souls ignite,
When all seems lost in the War of Light,
Look to the stars-- For hope burns bright!



TRIBO ÍNDIGO

Uma espécie de reabilitação de criminosos, é formada por criminosos que são aceitos para aprenderem o que é a compaixão..
Cor: Anil
Emoção: Compaixão
Membros Notórios: Munk.

Poderes: Desconhecidos
Fraquezas: Desconhecidas

Juramento (sem tradução, proveniente do idioma Munk):

“Tor lorek san, bor nakka mur
Natromo faan tornek wot ur.T

er Lantern ker lo Abin Sur,

Taan lek lek nok?Formorrow Sur!”




Tropa LARANJA




Larfleeze é uma vítima da luz laranja. Escravizado pela bateria, ele não lembra da família, amigos nem nada. Ele esqueceu tudo e só tem o mesmo desejo de possuir tudo.

Cor: Laranja

Emoção: Avareza
Membros Notórios: Larfleeze

Poderes: Os anéis laranjas são capazes de criar avatares dos seres que tomarem e matarem, roubando suas identidades após suas mortes. O anel laranja também é capaz de drenar energias verde, violeta, amarela e vermelha. Além disso, esses anéis também permitem voo, campos de força e comunicação.
Fraquezas: O anel laranja é incapaz de drenar poderes de um anel azul. Suas interação com o espectro índigo ainda é desconhecida. 

Juramento:

“Com a cobiça e avareza queimando à frente
Aceite o anel e se junte com a gente

Da raça mesquinha ao poder final

De luz laranja para a noite mais densa primordial”



TROPA NEGRA

A Tropa dos Lanternas Negras possui basicamente como objetivo matar o universo inteiro.
Cor: Preto
Emoção: Morte
Membros notórios: São liderados por Nekron, o senhor dos mortos. Na Noite Mais Densa vários heróis foram tomados pelo poder do anel negro como Aquaman, Caçador de Marte, Gavião Negro etc.

Juramento:

“No alto dos céus
A Noite Mais Densa desponta,

Enquanto a luz morre a escuridão toma conta,

Almejamos seu fim e miramos seu coração,

Pela minha mão negra os mortos se erguerão!”



TROPA DOS LANTERNAS BRANCOS

Os lanternas brancos têm controle total sobre a vida. Aquele que usa o anel branco pode criar, controlar ou destruir qualquer forma de vida. Em conjunto com o anel Preto, o anel branco se torna um Deus.
Cor: Branco
Emoção: Vida
Membros Notórios: Alguns heróis já foram temporariamente Lanternas Brancos, como o Superman, Flash, Hal Jordan, Arqueiro Verde, Batman e Kyle.

Poderes: Cada Lanterna Branco possui um anel de poder que permite ao usuário criar construções de energia branca alimentado pela própria vida. O portador original da Entidade, Sinestro, mostrou a capacidade de erradicar enxames de Lanternas Negros sem esforço e é descrito como “um deus”. Ele também parecia ser imortal, capaz de sobreviver a uma ferida aparentemente fatal e recuperação em poucos minutos.
Pontos Fracos: Sem Informação

Juramento: Desconhecido

27 de outubro de 2014

Votei em Dilma/Aécio, mas quem me fez gozar foi um eleitor/eleitora de Aécio/Dilma



Para desempatar o placar da eleição, suguei 13 vezes o mamilo esquerdo e 45 vezes o direito.  O que não dava era pra anular o gozo por conta de uma divergência política. O território dos meus beijos e carinhos é a Suiça. Devoto aos lençóis brancos com cheiro de luz solar mais credibilidade que a qualquer estatística, pois como sabemos os números também têm sua parcela de irracionalidade.

Se é pra celebrar a margem de erro, prefiro a margem de erro do amor à das estatísticas. Sou voto vencido, visto que amo, com margem de erro de mil sambas percentuais para mais e mil tangos percentuais para menos. E que o Bolsa não seja uma prisão perpétua, um convite a permanecer à margem, acreditando que o único sonho que resta para nossas crianças é se tornar jogador de futebol.

Brasil, não abandone sua vocação diplomática de paz. Não apoie os conflitos no Oriente Médio. Não goze com o pau beligerante alheio.

E que a vitória da Estrela Vermelha deixe para trás as sombras ameaçadoras de uma Guerra de Secessão tupiniquim. Unam-se o norte e o Sul e gozem, e deixem o Brasil se tocar por inteiro, conhecendo o gozo de A a Z, com sotaques mineiro, gaúcho, pernambucano, paulista e todos os outros. Permitamos a entrada do Outro no território do Mesmo. Os sotaques, todos eles, sempre me excitaram, mordendo minha orelha e me eletrizando a espinha.

Acusam os médicos de quererem ser deuses por não quererem trabalhar nos Interiores. Mas, como ter ânimo para desbravar as zonas erógenas desse País a troco de R$1500 réis?  De olhos bem vendados, os médicos procuram sem resultado por macas, leitos, remédios e encontram Mais Médicos prescrevendo doses cavalares para crianças e assinando diagnósticos de “virose bacterial”.

Na Coreia do Sul, professores do ensino fundamental têm doutorado e estão no topo da pirâmide social. Comecem de uma vez, no Brasil, os 40 anos que honrarão o adjetivo fundamental e ajudarão a ciência brasileira a vencer o crescente apelo dos fundamentalismos: a versão mais dantesca do gozo reprimido.

Não abro mão do beijo do (a) eleitor (a) brasileiro, tenha ele votado em Dilma ou Aécio, ou se abstido, pois o senhor do meu gozo não é um partido político e meu prazer não floresce do apertar de um botão. Não vou reduzir meus afetos a cinzas e depositá-las em urnas eletrônicas Aliás, meu gozo não tem Senhor; é anarquia devassa e pura e lilás.

7 de setembro de 2014

O medo do depois: sobre os cinco sentidos e seu grito de dependência


Fonte da Imagem: Mercado Livre



Susan Sontag estava certa: mais temível do que a doença são as metáforas a ela relacionadas.

O câncer, por exemplo, é menos amedrontador do que a metáfora que tenta disfarçá-lo, chamando-o de C.A. assim como a Polícia é menos assustadora do que a metáfora Caveirão.

Um olhar, um toque, um beijo, um chero, uma sonata não causam medo. O que terrifica são os instrumentos de tortura e agrilhoamento que se costuma relacionar aos cinco sentidos.

O olhar de amizade que parece virar uma porta aberta pela qual se pode entrar e sair livremente. Esse sim causa medo. Tem-se medo da porta aberta e não do olhar. E olha que a porta aberta, que nas antigas canções, soava ternura, hoje parece soar tortura, tendo em vista que o senso comum passou a considerar a “Porta Fechada” como sinônimo de normalidade e jogou fora o cachorro com sorriso e tudo.

Ter o coração roubado ou flechado ou explodido parecia ser uma metáfora sutil, banal mesmo, uma dessas de amor. Nos dias de hoje em dia, em que o fantasma do Terrorismo perde sua consistência ectoplasmática e ganha carne, ossos e massa cinzenta, as inocentes metáforas que abrem este parágrafo passam a ser encaradas como sintomas mal quistos de colonização alheia.

Sintomas do medo crônico do “Depois”, numa época que, como bem observa Walter Benjamim, trocou o amor à primeira vista pelo amor à última vista.

Não se teme o depois por ele estar envolto com a sombra do fim. Ao contrário: teme-se o depois, por ele trazer a insegurança do recomeçar, o retorno à etapa mais complicada e menos exibível do edifício: a construção de alicerces.

Não é ouvir, tocar, olhar, cheirar ou lamber, em sentido literal, que assustam, mas sim suas metáforas ocultas, onde pulsa nossa mal resolvida época, que não sabe como resolver o conflito de fronteiras entre escravidão, compromisso e indiferença, sentimentos dos quais os cinco sentidos, e seus gritos de dependência, são extensões. 

O que se teme é que a tocha continue ardendo, com suas chamas que lambem a orla do manto da eternidade. O que se teme é a responsabilidade de conduzir a tocha até a mão do próximo corredor, antes que a bomba-relógio exploda.

31 de agosto de 2014

Quando Deus se ajoelhou ao meu pé-do-ouvido: o sentido da audição

Foto by Jassim Yahoo


Audição
Por Eltabu Kowski

Não creio que a Igreja me perdoará
Por escolher me confessar enquanto migro de Caruaru para Recife
Coloquei no MUTE meu rádio vagabundo, que custou R$?00 dólares
Desliguei o leme dos meus pensamentos
Minhas mãos continuavam no volante
Mas a alma delas tinha se teleportado para acariciar os azuis de quem amo

Pedi licença para falar em voz alta com Deus
Desabrigando Sua telepatia
Dois loucos se fizeram companhia durante 1 hora e meia taça de doçura represada
Com medo de que a lua fosse presa por tráfico de contramãos
Deus se ajoelhou ao pé do meu ouvido* e sussurrou muitos silêncios furtacor
Roubando-me a coragem de partir
E o medo de prosseguir


Quando me dei conta, Deus estava, pela septcentésima vez me ouvindo falar de ti

Pense de quantas encarnações tive de desviar para te encontrar nesta vida clandestina!
Quando você me disse “A gente se fala”, pensei:
Quem está mentindo? Os pássaros ou o Inverno que os obriga a partirem?
Se não foi mentira, joga fora o manto de invisibilidade
Se foi, me avisa quando teu olhar sincero avisar a tua risada que a graça da piada é finita

Se foi política, terei de esperar até o Terceiro Turno
Para que esse Noturno pare de tocar em meu corassãozinho errado e doído?
Não sou candidato, mas estou partido ao inteiro
E inda corro o risco de ser preso
Porque minhas digitais desmentem quem sou

E insistem em me confundir com essa tal de Saudade.


* E a penitência do meu pé-do-ouvido tem sido esperar que se cumpra a promessa de uma Árvore de Peras

24 de agosto de 2014

Poema do segundo sentido: a visão


Olho de rosa - Foto by Marcelo Lacerda


A visão é um sentido atípico
Fala sem som e sem palavra
Toca sem mãos e envolve sem abraço
Ouve sem tímpano, fere sem martelo, desequilibra sem labirinto
Pinta as mais sonoras explosões até mesmo na moldura do vácuo

Os olhos comem: um apetite cego
A visão só não consegue cheirar
Porque ficaria difícil para a microscopia desvendar o aroma intramolecular

A visão invade a privacidade do futuro e ilude o presente,
Fazendo-o crer que este exato minuto é soberano
Mas, apesar desse jeito de usurpadora, a visão ensina
Que nenhum sentido é autossuficiente
Ou capaz de exercer monopólio sobre o amor
Não existe amor feito só de visão, audição, olfato, paladar ou tato
Em parte o amor é todos os sentidos,
Em parte um sentido indefinível
Em parte é total cegueira, surdez, desgosto
E sempre uma demão de falta de tato
É a precognição que se esconde em todo perfume

Deixa de lado as metáforas cansadas que buscam fazer dos sentidos prisões
Olha-me e deixa-me te olhar sem que precisemos deixar de ser companheiros
Não tenha medo de que um Eu te amo me ancore à porta de entrada dos teus sonhos
Ou vista teus projetos de rua-sem-saída
É possível olhar com olhos de eternidade e depois seguir em frente como amigos em cores

Tornando desnecessário o Nunca Mais.
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