25 de setembro de 2013

A festa de despedida do silêncio no último verso de Ramos Rosa



Desenho de António Ramos Rosa, caneta tombo castanha em papel pergaminho com recortes - 2005 


Soube por Daniel Cisneiros que os últimos versos escritos por António Ramos Rosa, segunda-feira, pouco antes da morte deste poeta português, foram  os nomes da sua mulher, a escritora Agripina Costa Marques, e da sua filha, Maria Filipe.  Logo a seguir, inspirado por um sussurro da filha, Ramos Rosa recordou um conhecido verso de sua obra: “Estou vivo e escrevo sol” .

Ramos Rosa descreve a amizade como um arco-íris de sombra, quente e trêmulo. Como um relógio que recupera a utilidade de todas as partículas do tempo: a poesia de Rosa revela isso. É vela que se acende em intenção das almas no seu dia (segunda-feira).

Infiltrei-me no testamento de António Ramos Rosa
E dei de cara com uma flor rasa que cheirava a galáxias
As sombras tinham folhas que, quando aparadas,
Faziam o mundo girar cada vez mais rápido até se tornar uma espiral de luz

Rosa me prometeu que se na festa do silêncio, isto é, na poesia,
eu dissesse Árvore, a árvore em mim respiraria
Mas, por que a falta do do Nobre Alguém
Me torna um abraço sem ramos
Um pé de planta sem rastro?

Ramos Rosa é feito um detetive
Ele pegou um oásis em flagrante
Depois de cometer o crime de plantar um girassol no horizonte
Seria desrespeito aos ressuscitados, deixar o horizonte despossuído
Para te presentear com o girar do sol, meu Alguém: Nobre?

Mas, como diria Rosa, o horizonte treme entre os cílios de quem é amado
Então, precisarei do teu beijo, pois, ao me beijares
Teus olhos ficarão fechados
E o horizonte poderá ficar em paz e aquecido
Deitado nos braços de um céu abobadado de amor

Não sei se devo deixar minhas palavras, a exemplo das de Rosa,
Naufragando rentes ao muro
Permita-me uma dança,  Nobre
Para que com o rosto colado ao teu
Não pare eu de desafogar o Eu te amo
E serão teus lindos ouvidos um porto mais que seguro
E teus lábios o mais doce e suave risco

Um dos versos de Ramos Rosa me fez lembrar do meu tímido Alguém (que não me pertence):
"Restos de tabaco e de ternura rápida" ou "um copo de vinho de sol"
E, a melhor homenagem para Rosa é o vento, que propaga sem destino surpresas e carícias
Que as melhores surpresas e carícias do destino cheguem, com ajuda da poesia de Rosa, ao rosto da face e ao rosto da alma do Nobre.








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