1 de agosto de 2013

Jose Luis Paredis e a poesia apátrida




David de la Mano – Apátrida New Mural @ Montevideo, Uruguay


 Aeroporto
Por Jose Luis Paredis



Tenho sido um apátrida:
Com visto negado para a realidade
E renegado para o sonho
Ontem, a meia-noite ligou-me, disfarçada
De sonolento zênite
Com intenções de través
E me disse que estavas com uma pessoa
E eu me senti bobo como uma solidão ferida numa mina terrestre
Plantada no sem chão dos meus passos

Como é difícil te amar
Mas, quando te revejo, Nobre Alguém
É como se o peso do mundo
Desistisse de estar filiado ao partido da energia potencial gravitacional
Tua testa franzida e teu olhar chateado roçam meu existir
Com uma leveza tão suprema,
Perto da qual o voo dos anjos parece de chumbo
E a organza pesa como l'argent

Dos amores, dos beijos, dos abraços não-correspondidos
O teu é o mais quente, carinhoso, sincero, gostoso, amigo e lascivopuro: apertado
E traz as cicatrizes da liberdade impressas nos primeiros fios  brancos
Refugiados no eclipse dos teus cabelos
E me faz bem sonhar que um dia meu cafuné possa despentear esse eclipse...

Tua não resposta faz o fluxo do tempo chegar atrasado ao passado,
Antes da hora ao presente
E no momento exato ao futuro que, assim, perde o dom de ser impreciso...
Durma no meu peito tua nuca linda e ranzinza
Toda vez que quiseres descansar de ser nômade

Dos desconhecidos, és quem mais sabe de cor os atalhos da minha alma
Dos desconhecidos, sou quem sabe melhor acariciar as zonas erógenas de teu silêncio
E de tua distância
E se fosses pagão, acenderia todo dia uma vela na brasa do mar da graça,
Para que a doçura embalasse teu sono

E me permitiria caminhar contigo por lugares estranhos,
Como a eternidade que percebeu que não era eterna
Embora estivesse calçada de tempo sem fim

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