16 de maio de 2013

Um colo para a deslágrima e a dessaudade

Parc Sainte-Marie - Nancy
Foto: Karla Vidal



Colo

Não sei se estás triste,
Mas sei que tenho vontade de convidar minha precariedade
A entrar no casulo dos medos e das incertezas
Até estar pronta para se tornar um abraço capaz de voar com asas de carinho e consolo
E se colocar a teu dispor

Alegre não sei se estás,
Com tantos amigos, talvez, certamente
Seja no futuro ou no passado,
Espero que o pouco de presença que me resta
Arda como o coração do fogo, sem artifício
E traga do sonho que as preces refugiam
Um infinito despreocupado,
De passagem e
Com as malas prontas para
Se desfazer do peso das saudades
E das metáforas cansadas
Que meu sentimento tenta
Reconverter em semente

Quando quiseres te sentir só, ao meu lado,
Te ofereço meu ombro mudo
E se quiseres trocar uma palavra
Te entrego a voz do meu apreço,
Os originais e as traduções
Dos meus erros e acertos

Quero, estando perto ou longe,
Contribuir um pouco que seja
Para que os medos, as obrigações, (quem sabe, os cigarros?) e os descalços descasos
Fiquem longe do teu travesseiro, das cigarras e do teu acordar

Às vezes eu também tenho medo de ser amado por mais de um segundo
Quem dirá de ser amado por um mês, um ano ou uma eternidade!
Mas, não precisas ter medo
Porque o que sinto por Alguém é uma ponte leve e sutil
Que percorro para encontrar amor nos diferentes tempos e espaços do universo:
O umbigo, ou, peut être, o quintal de Deus

Espero que minha palavra, tão incapaz de calar a corda estridente do meu silêncio,
Possa deixar de ser minha e, assim, ter permissão
De entrar na tua lembrança
E bater a porta do “Estou por perto”
Onde há colo, meu Nobre, para os sorrisos e os dessorrisos,
Para as lágrimas e as deslágrimas
Para a solidão e a dessolidão
Para a saudade e a dessaudade
Pour la prèmiere et pour la dernière fois.

My special child - Sinéad O'Connor

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