11 de janeiro de 2013

A saga do Tum Tum que virou Turu Turu: as orquestras do coração


Performance artística do Coletivo Aqui Bate Um Coração
O entendimento é uma operação seletiva, cujos parâmetros variam conforme a faixa etária. Hoje saboreei a parcela empírica dessa verdade, re-escutando a música “Quando você passa”, conhecida popularmente como “Turu Turu” (graças a Mariana Silveira, que desenterrou dos arquivos do acaso esta joia).

Pode parecer que essa postagem é um pretexto para dar vazão ao veneno. Mas se trata de uma reflexão sobre o modo como a memória nos devolve, com o passar do tempo, as informações que enviamos para sua caixa postal. E as cartas devolvidas pela memória chegam com selos bem diferentes dos que revestem a carta no momento da postagem inicial.

Na adolescência, a onomatopéia dessa música passava despercebida somada à batida da canção. Mas hoje, entre 25 e trinta e uns, foi o alvo primeiro da flecha da minha atenção.

Comumente, o coração retratado pelo cancioneiro popular do Brasil escolhe bater fazendo Tum Tum, conforme a tradução que Jackson do Pandeiro fez, no começo dos anos 60, para o compasso cardíaco (numa música resgatada pela cantora Karina Buhr). Esta tradução vem sendo passada adiante por músicas como “Oi Tum, Tum, bate coração”, composta por Cecéu e sucesso nas vozes de Marinês e Elba Ramalho.

Ao longo do tempo, foram surgindo variações como o Tic Tac da Timbalada, o beat baixinho de Daniela Mercury que importa dos Estados Unidos um bater do coração com sotaque inglês. Aliás, o “beat of the heart” é uma expressão percursiva comum no universo do pop inglês, visitando desde a música de Elton John (de forma marcante em Empty Garden), passando por Smooth Criminal, de Michael Jackson e entupindo suas veias na leitura insossa de Hilary Duff.

Mais ou menos uma década atrás, Sandy e Jr criaram um neologismo onomatopaico, rebatizando o Tum Tum do cor  com o nome de Turu Turu. Para desavisados, o turu turu pode soar como uma espécie de parasita, tipo um animal peçonhento de alguma selva ou mesmo uma forma infantil de se referir ao nosso já conhecido amigo, o cururu, nome dados pelos índios ao sapo grande e gordo.

Na verdade, o turu é um molusco que vive em árvores podres. É saboreado na ilha de Marajó e no interior da Amazônia vivo e cru, em caldo com farinha ou em moquecas e é considerado afrodisíaco.
Eis o Turu
Existe também um passarinho charmoso chamado Turu Turu (confesso que este dado me fez rever a opinião sobre a onomatopéia de Sandy e Jr).

Muita gente trelou com a música Esse cara sou eu, de Roberto Carlos, mas não atentou para o grau de obsessão presente no Turu Turu. Vejamos a seguinte estrofe da canção:

Se eu pudesse te prender
Dominar seus sentimentos
Controlar seus passos
Ler sua agenda e pensamento
Mas meu frágil coração
Acelera o batimento
E faz turu, turu, turu, turu, turu, turu tu

Turu-Turu: By André Adeodato
Salvo a licença poética que foi buscar na hipérbole inspiração para compor esta pérola, “imortalizada” nas vozes dos filhos de Chororó, há que se ficar, no mínimo, desconfiado se, ao se recostar a cabeça no peito de quem se ama (seja, ou não, ele [ou ela] o "cara" ou a "cara") se ouvisse Turu Turu... Mas, não faz mal algum tentar, de tempos em tempos ensinar um novo idioma ao coração. E, desajeitado como costuma ser, ele, vez por outra, vai bater de forma mais esdrúxula que o Turu Turu.

Performance artística do Coletivo Aqui Bate Um Coração
Uma dessas tentativas de renomear o pulsar do coração é da Orquestra de Câmera do Coração, que produz sons com base no ritmo cardíaco, aliando sensores ao corpo dos músicos.  Ao cabo da postagem, um exemplo da performance do grupo.

Incrível também é a interpretação plástica dada ao bater cardíaco pelo Coletivo Aqui Bate Um Coração (Agência Távola), que espalhou corações de isopor por monumentos da cidade de São Paulo.



Heart Chamber Orchestra from pure on Vimeo.
Orquestra do coração

Turu Turu reinterpretada por Maria Gadú

Coletivo Aqui Bate um Coração

Postagem dedicada à amiga Mariana Silveira, que tem um refinado gosto, a despeito de secretamente gostar do Turu Turu

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