Um dos pés calçado num mundo imenso, enfeitado de vida
inteira pela frente
O outro calça o menor dos mundos, azeitado pelo tempo que não
retorna
E, mesmo desengonçada, calçada por mundos tão díspares
A esperança me surpreende com sua elegância e desenvoltura
Ela adquiriu este traquejo ao ver a Virgem Mãe esmagar a
cabeça da serpente,
Cujo veneno era o abandono da capacidade de crer que o veio
do coração humano
Sempre tem uma pedra rara cravada no grotão de seu mistério:
pedra furta-cor,
Que oscila entre tons de maravilhamento e tons de dor
A esperança assistiu ao caminhar de um Menino no calvário
Ele trazia uma pomba branca equilibrada no seu doce olhar
Todo horror e cruz se curvavam diante daquela pomba e
daquele mar
Porque aos pés do Homem que carregava a cruz
Estava uma Criança a espera de um abraço
As mãos daquele Pequeno Rei eram o refúgio onde a balança
Encontrava a calibragem da Justiça,
Os arco-íris o candor da Aliança
E as mãos dadas a mesura da Paz
O mundo pequeno dos enormes desesperos tenta plantar queda nos
pés da Esperança
Mas, o sorriso do Ano Novo que respira a inocência do Menino
Descobre uma tempestade de ressurreição radiante
No último suspiro do Homem
E desta inesperada nascente
A esperança encontrou forças para se reequilibrar
E terminar o desfile mais elegante do que os nuncas ,os
sempres e os talvezes
Foi quando a queda se deu conta de que havia trocado a nudez
da solidão e do medo
Por uma veste ornada com 365 motivos para ficar de pé
Foi aí que a Esperança entendeu
Que a queda era uma pista de decolagem
para seu voo
E, assim, partiu do nosso coração, que era de Jesus, que era do Homem, que
era do Menino
Coração que era mapa de um tesouro que podemos inventar com as cores frescas da Lua,
Imersa em uma luz que lhe é própria porque se doou por completo
Oração que era a chama de um honesto Pulsar
Era e há de ser...
Em 1988, a cantora francesa, Françoise
Hardy, havia anunciado o final de sua carreira. Mas, como todo bom romântico,
ela tratou de convencer o apocalipse a mudar de ideia e deixar o fim para outro
lendemain qualquer. Desde então
gravou pelo menos quatro vezes, tendo seu disco mais recente, L’amour fou, sido lançado mês passado.
As músicas de Hardy resistem à tentação pós-moderna de colonizar
o único terreno que ainda resta livre das naus da racionalização: o terreno da
incerteza e da surpresa ou, em outras palavras, o terreno do coração.
De alguma forma, são canções que nos desafiam a nos
reacostumarmos com a dose de mistério e loucura necessária à manutenção da própria racionalidade. Não seria isto a poesia: um convite ao sincretismo entre a loucura e a racionalidade que nos habitam? Não seria o esforço de divorciar estes dois entes que os tornariam ilhas inóspitas e altamente perigosas?
Parecemos estar plenamente adaptados à
inconstância e à efemeridade, mas agimos como se todas as relações pudessem ser
um esquema onde fossem conhecidos todos os liames entre passado, presente e
futuro. O ciclo das mudanças gira cada vez mais rápido, mas somos imaturos em
lidar com o risco que é inerente aos relacionamentos. Em vez de fazer do risco
um momento de prazer suscitado pelo esforço conjunto de elaborar novas etapas
das relações, preferimos fazer do sintoma motivo para enterrar o doente antes
mesmo que ele morra.
Somos analfabetos no que se refere ao enfrentamento de
riscos. Por nos acharmos capazes de
aparar todas as arestas da incerteza, a frustração mínima se torna motivo de
deflagração do Apocalipse. Achamo-nos pés no chão, uma geração que, ao
contrário das anteriores, não é mais escrava da transcendência, tendo
descoberto enfim como usufruir a realidade, a concretude. Mas, o que há de mais
impalpável e transcendental do que o fetiche do “fim”, do que buscar num beijo
não a boca que se beija, mas todas as outras que porventura poderiam, talvez,
ser beijadas?
Existe um abismo entre o que buscamos e o que achamos no
outro. Novidade nenhuma... O que é novo, na mesmice que fere a poesia de
Françoise Hardy é a pergunta: “Como lidar com o desafio constante de amarmos
numa pessoa aquilo que não sabemos ao certo se é a pessoa?”
alvez o neorromantismo de Françoise Hardy procure um campo
para enfrentar este questionamento, que não sejam as miragens igualmente
transcendentais do eterno e do efêmero.
Pour quoi vou?
Françoise Hardy
J’ignore si ce que j'aime en vous
C'est vous
Mes idées deviennent floues
Je suis à bout
Pourquoi vous ?
Et ce vertige qui me prend tout à coup
Il me viendrait d’où ?
De moi ou
De vous ?
Je me sens vraiment en dessous de tout
Je ne tiens plus bien debout
Sans doute
Un coup
De grisou
Inutile de me mettre en joue
J'avoue
Comme un arrière-goût
D'amour fou
Tabou
N'essayez pas de m'arracher
La moindre bribe du moindre regret
Lever le voile pourrait gâcher
Tout ce qui nous lie de loin pour de près
Je ne viendrai jamais à bout
De flou
Qui brouille mes vœux sur vous
Mais si j’échoue
On s'en fout
Se peut-il qu'il y a l'un de nous
Qui joue
À tendre l'autre joue
Si c'est vous
J'absous
Vous resterez au grand jamais
Le plus brûlant de tous mes secrets
Nous resterons au grand jamais
Loin l'un de l'autre et pourtant tellement près
Chego quase à conclusão (visto que um libriano conclusivo é
um libriano doente!) de que o fim do mundo é um tipo de gênio da lâmpada a
esperar ansiosamente que confessemos vontades estranhas. E, como é sabido por
quem bem o sabe, a estranheza tem um lado encantador e surpreendente. Digo isso
ao lembrar vontades de amigos meus, inspiradas pelos últimos suspiros do
calendário maia. A seguir, listo algumas:
Anderson Lima – vontade de encontrar a receita da piada perfeita e convencer a todos que o riso é mais forte que a vergonha
Anuska Vaz - vontade de reler Os Maias, de Eça de Queiroz, e de, por meio de sua impressionante
fotogenia (de Anuska e não de Eça :P), fazer o fim do mundo sair com cara de recomeço na foto de primeira
página da Esperança.
Amós Andrade - vontade de fazer da simpatia uma dízima periódica, terminada em 99999999999...
Aline Figueiroa - arquitetar uma vingança de raios lunares em cada jardim de Burle Marx, onde não mais fizesse sentido proibir nenhum fruto.
Igor Bandim – vontade de plantar um livro e escrever uma árvore e, antes e depois, compartilhar estas vitórias com os amigos que, mesmo longe, sempre são próximos. Vontade de ler nossas dores secretas até inventar um título que seja capaz de curá-las.
Leonardo Sodré - transformar o azul do céu ou dos mares num tatame (um tato que ame) onde o Aikido possa praticar as pessoas
Boris da Aliança- criar um manual ensinando os franceses a serem o melhor dos brasileiros e os brasileiros o melhor dos franceses.
Marcelo Diniz - ensinar todo aquele que está prestes a cair a se reerguer como um aikidoca e a vencer como um cavalheiro.
Felipe Simões - unir as esferas do dragão para fazer uma festa comemorando sua alforria
Sabryna do Aikidô- fazer de cada nota musical um espetáculo, dos sustenidos mágica e dos bemóis milagres e de toda essa sinfonia plateia que aplaude o coração humano.
Paulo Gurgel - transformar a pobreza num sonho que acorda desabrochado em flor de esperança, solidariedade e paz
Paulo Ricardo Almeida - apagar os incêndios de Ribeirão Preto e do Mundo e convidar a fé e a doçura para andarem na garupa do Grand Canyon ao longo de uma motocicleta.
Renata Scarpin - multiplicar pela clave de sol a luz do Espírito Santo e refleti-la mundo a fora no sorriso da fé.
Mário Daher - ser milionário o suficiente para poder fazer doações a todos os continentes até que a desigualdade se renda ao charme do Aikidô.
Dyego Holanda - escalar o Everest para dar um abraço caloroso no coelho da Duracell e juntos fazerem uma oração pela paz mundial.
Ana Geny - dividir o último gole de alegria infinita com a sedenta justiça.
Carla Araújo - vontade de dar um abração bem apertado no Visconde Partido ao Meio.
Delzuita dos Prazeres Lima - vontade de participar de um passeio ciclístico em Nibiru e ganhar como medalha a paz mundial.
Everson Cavalcanti - vontade de, com categoria, sair correndo, ao mesmo tempo, nu e de sunga branca pelas ruas recifenses. Isso pra servir de exemplo aos que anseiam despir-se dos invisíveis grilhões.
Fábio Soares Nunes - vontade de fazer o cerimonial do Encontro de Paz entre o Oriente, o Ocidente e Recife (o maior continente da América Latina).
Fátima Ferreira - vontade de convidar a elegância para dançar a última
primeira dança ao som da primeira última música
Helga Vieira - vontade de criar o projeto arquitetônico de um lugar
onde os traumas sofridos pelos animais possam ser apagados.
Karla Gisele Vidal: vontade de substituir os exércitos e as guerras por
esquadrões da moda e missões de paz.
Gustavo Táriba - vontade de sabotar a fábrica da coca-cola e
adquirir franquias da grife Star Wars
para propagar o lado áureo da Força.
Juliana Mafra – vontade de desenvolver um software que desprograme
o rancor, a mágoa e o preconceito
Ivana Perobelli - vontade de buscar no 1% de tempo que resta o amor indivisível.
Elizabeth Moura - vontade de ensinar os espíritos tristes a dançar balé para que o cisne branco que neles há ressuscite.
Ozan Revi - abrir uma empresa de exportação, sem fins lucrativos, cujo principal produto é o azul ardente do céu de Recife, que, de alguma forma, mora também nos seus olhos turco-britânicos.
Ana Paula Costa - vontade de que todos tenham a chance de voltar pra casa e encontrem um Eu-te-amo de pé à soleira da porta, despindo-se das luas de saudade
July Holanda – vontade de tocar violino até curar os gritos e
silenciar as dores.
Mauro Torres – vontade de pedir emprestado ao Pequeno Príncipe um
dos cometas que ele guarda na garagem do sonho
Aislam Melo – vontade de promover um acordo de cooperação entre
Nárnia e a vida real
Mariana Silveira– vontade de ajudar a luz a pesar mais que a
injustiça na balança dos destinos.
Sarah Catão- vontade de patentear seu sorriso como remédio para toda e qualquer esterilidade
Lylian Cabral – vontade de não deixar ninguém que ama sem saber
que é amado.
Iara Lima – abrir uma filial da amizade sincera na Zona Franca e instaurar um tipo de comunismo em que todos tenham direito a plena liberdade de expressão e a um
iate particular.
Mahely Barros – vontade de tornar a vida a cara da riqueza, com
direito a limpeza de pele para extrair as marcas da arrogância e da
auto-suficiência.
Wanessa Loyo – vontade de que o sorriso deixe de ser medida
provisória e se torne decreto-liberdade.
Alberes – vontade de pintar com silêncios quadros
impressionistas, fazendo do ser amigo uma rima com a luminosidade.
Augusto Noronha – vontade encontrar carinho e respeito onde
supostamente só havia desajuste e, durante o processo, adquirir a versão
pós-fim-do-mundo de Ghost Recon.
Marluce Vidal – vontade de nos aproximar da canção do Céu.
Noaldo Vidal – vontade de nos tornar felizes vítimas da conspiração
da fantasia.
Luciana Zamprogne – vontade de ajudar os outros a fazerem da
contradição um ato de fé e um gesto de lealdade.
Tony Pradines - vontade de cancelar a reserva no restaurante Leite e ir comer com os amigos um petit gateau de nata-goiaba no La comédie da Via Láctea
Ana Carolina Morais – vontade de plantar uma espada samurai e colher uma
cachoeira de carinho.
Magaly Rocha - vontade de ensinar as armas de fogo a jogar fora o uniforme de guerra e se vestirem como as flores da Holanda.
Iliana Quidute - vontade de cantar com uma multidão uma música esculpida no milagre.
Renata Vieira - vontade de sentar aos pés do sonho e escutá-lo contar uma história para ninar o tempo e de, acordar com vontade de prescrever para todos os impacientes os efeitos colaterais do amor: respeito, idealismo e paz
Renata Marques – vontade de fazer a esperança fluir através dos poros do rosto, hidratando os sorrisos, e dos poros da alma, dignificando as cicatrizes.
Amigos do Aikidô – vontade de treinar até o equilíbrio
energético do planeta ser restaurado.
Cláudio Clécio – vontade de suspender o fim do mundo até seu
Eu-te-amo chegar ao coração do Nobre Alguém.
Augusta Ada Byron não se valeu do renomado sobrenome de seu pai, o escritor ultrarromântico Lord Byron, como senha para entrar para a história. É mais conhecida como a condessa Ada Lovelace. Mas, nesse caso, o sobrenome Lovelace deve a elasua fama e não o contrário, visto ter sido a jovem a primeira pessoa a criar um programa de computador. Atualmente, ela empresta seu nome a uma linguagem de progrmação: a ADA, desenvolvida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e utilizada na aviação.
Lovelace não manteve laços estreitos com o pai, que morreu quando ela tinha 8 anos . Só veio conhecer o rosto de Byron, por meio de um retrato, ao fazer 20 anos. Não herdou dele as feridas do "mal do século", mas, certamente talvez, algo do ímpeto byroniano estava em sua personalidade que, desafiando o conservadorismo da era vitoriana, desenvolveu pesquisas junto a Charles Babbage, criador do primeiro computador mecânico.
A mãe de Ada chegou a suspeitar de que sua filha pudesse ser louca. Mas, a moça conseguiu lidar bem isso, convertendo um possível complexo de inferioridade em cultivo da criatividade. Assim, logo cedo, dedicou-se a desenvolver modelos matemáticos para descrever o funcionamento do sistema nervoso.
Chamada por Babbage de "encantadora dos números", Lovelace também despertou a admiração de outros cientistas como Faraday, um dos fundadores da eletroquímica e do eletromagnetismo. Sem sucesso, ele tentou programar um relacionamento amoroso com ela.
Contudo, Ada deu um passo além de Babbage, refletindo sobre a possibilidade da programação em computadores não ficar restrita ao domínio do número, abrangendo, por exemplo, a música.
Lord Byron foi protagonista de inúmeros escândalos, sendo conhecida, por exemplo, sua tendência à necrofilia. Ada não chegou nem perto desta excentricidade, mas manteve relações extraconjugais e esteve envolvida com o jogo. Chegou a se endividar ao investir na construção de modelos matemáticos que garantissem o sucesso na jogatina.
Anualmente, em outubro, é celebrado o Ada Lovelace Day, com o objetivo de promover o trabalho de mulheres no núcleo duro das ciências, a exemplo da matemática e da engenharia. Ada teve três filhos e faleceu em 1852, aos 36 anos.
Sobre Ada, dirá Babbage:
Forget this world and all its troubles and if
possible its multitudinous Charlatans – every thing
in short but the Enchantress of Numbers.