7 de outubro de 2012

Trash em HD: a nova cara do sublime nas fotos de Cartiê Bressão e na música da Companhia da Lapada



Talvez Fredric Jameson esteja correto em sua avaliação e continuemos - por mais “pós” que desejemos ser (pós-modernos, pós-história, pós-capitalismo, pós-ideologia, pós-graduandos...) – devedores das ideias do século XVIII, mais precisamente as ideias Kant.

Ele despiu a palavra sublime de seu senso comum e a revestiu de teor filosófico.  Lembro como uma professora e amiga, chamada Maria do Carmo Nino, resumiu o conceito kantiano de sublime:

“Pense numa pequena pedra à beira de um imenso abismo. O sublime é quando a infinitude do abismo tenta caber na pedrinha e quando a singeleza da pedrinha se mostra um caminho para o abismo ”.

O sublime é um trem que passa por diferentes estações, a exemplo da plenitude, da impotência e do terror. Em todo caso, o que está em jogo é a medida que nos escapa. Algo pode ser tão simples e próximo que, quando pensamos o ter sob alcance da razão, este algo foge de nossas mãos. Ou, então, algo é tão imenso e profundo, que não cabe em nossa razão.

Certamente talvez, o terreno do sublime é um lugar entre a admiração e o medo.

Causava admiração e medo, por exemplo, a incrível capacidade de Rafael Sânzio de reproduzir, esculturalmente, o corpo humano.

Porém, atualmente, um terceiro elemento aparece como elo entre a admiração e o medo que participam da identidade do sublime: o riso. Não o riso nosso de cada dia, mas o riso ansioso que, de tão aguardado e, ao mesmo tempo, tão descartável, acaba sendo um disfarce do desespero.

Se antes, a compenetração e a veneração eram marca do sublime, hoje, esta marca parece ser o riso desesperado. O You Tube tem sido um importante celeiro desta nova versão do sublime.  A proposta é que o sublime se revele por meio da trashice. Algo é considerado sublime quando nos faz perguntar: “Como alguém pode fazer algo tão trash?”.

Meu amigo Haroudo me advertiu de que esta postagem corria o risco de confundir os conceitos de sublime e grotesco. Ora, se não houvesse tal risco, o sublime e o grotesco se resumiriam à normalidade. Ele também comentou, com argúcia, que o sublime eleva e o grotesco enterra. Nisso, tenho de discordar. O sublime é capaz de nos enterrar, mesmo que o túmulo sejam as nuvens do Olimpo...

O Marquês de Sade tem, enfim, sua revanche. O trash agora torna-se a fórmula do sublime e se especializa cada vez mais com auxílio das tecnologias HD (high definition). Vivemos uma época em que as pessoas querem evitar o peso de ser admiradas ou temidas e estão preferindo ser alvo do riso desesperado. E assim,  os artistas do desespero risível aprimoram técnicas de produção de “obras-primas” do trash, onde o que importa é fazer da perda de tempo algo digno de ser le grand finale do espetáculo.

A seguir, dois exemplos do trash em High Definition. Primeiro, uma foto extraída do site Cartiê Bressão



“Vendeur arabe s’arrête pour un bain rafraîchissant”, Praia do Arpoador — 2012


Depois, o vídeo de um dos hits da Companhia da Lapada: "Eu vou cortar a cara dela":


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...