15 de julho de 2012

Para Roma, Woody Allen, Paulo Roberto Pires e Alec Baldwin: com humor, no superlativo


Fonte da imagem: Blog Nerd Revolution



Toda vez que vou falar sobre algum filme de Woody Allen, lembro que só assisti a aproximadamente* cinco filmes dele. Ou seja, segundo os padrões do INMETRO, eu não deveria nem ousar tecer algum comentário sobre esse cineasta que as pessoas elevam ao status de gênio porque as pedras atiradas no topo proporcionam um “efeito estético” tipo assim mais “manero”.

Antes de começar a escrever lembrei também de um desabafo do escritor Paulo Roberto Pires, o qual ainda não li, mas que me permiti coletar no Facebook de uma amiga (alguém tem de fazer o "trabalho sujo")**.  

Dirá Pires em bom português: “Por isso, nunca mais a escrita de resumos cretinos de livros cretinos, cretinos ainda que importantes. Nunca mais as leituras de quiméricas propostas de livros que não existem, nunca mais as histórias medíocres que misturam partes de outras histórias medíocres em busca do sucesso medíocre. Nunca mais, para resumir, a caftinagem consentida do mundinho literário.”.

Resumo da ópera: não tenho “propriedade” para falar sobre Woody Allen, mas falarei assim mesmo. Assumirei o risco de causar um infarto em Pires, quando ele me ler...

Ah, esse risco não existe... Se eu ainda não vi todos os filmes de Woody Allen, que é unanimemente considerado um gênio, que pretensão a minha de querer ser lido por Paulo Roberto Pires: o entediado... 

Lembrei agora de outro amigo que afirmou , durante um jantar entre amigos, que boa parte da crítica é feita com base em livros não vistos e filmes não lidos. Não sei se seria tão radical ao afirmar isso. Principalmente, levando-se em consideração o conceito de leitura vigente, que se baseia na ideia da leitura como a ilusória capacidade de captar e estender o resumo do absoluto gravado nas retinas de Deus.

Minha crítica é suspeita porque achei muito bom o filme (mas confesso que, depois que a película se consumou, apalpei-me para averiguar se tudo estava em ordem. Afinal, não é todo dia que se escapa são e salvo da experiência traumática de ser submetido à performance dramática de um indivíduo da família Baldwin).

Contudo, o filme é menos melhor que Meia-noite em Paris. Minha análise é suspeita porque, além de ser uma análise, não conheço a obra do cineasta e, portanto, corro o risco de comer ktsch de miragem como se estivesse a beber a última Pepsi Twist do deserto. Mas, é assim mesmo: algo sempre será mais inédito do que outro algo mais repetido...

Chamou-me bastante atenção a atriz Ellen Page, que já foi indicada ao Oscar e ao Globo de ouro, mas que a mim traz como lembrança primeira sua atuação como Lince Negra, no filme dos X-men (mas ela não tem culpa das minhas memórias...).

A personagem de Page é uma típica militante do Movimento Eu Sou Cultural (MESC). De tudo ela conhece... algumas frases. E consegue convencer até mesmo um Nietzsche de que o mito de Sísifo é um texto capaz de revolucionar o sistema solar.

Fonte da imagem: UOL entretenimento

A personagem é atriz de fato, mas filósofa de direito. E, como boa “advogada”, sabe, com base na citação do menor inciso, dar a impressão de conhecer todo o ordenamento jurídico, deixando os que a ouvem tão boquiabertos que se chega a enxergar até mesmo o siso já extraído. Daí para despertar a paixão de um homem e dragá-lo para a cama é um pulo.

A personagem faz juz ao mito de Sísifo. Seduz (de preferência o namorado de alguma amiga porque o capim do vizinho é mais gostoso), faz o carinha sacrificar tudo e, quando ele chega ao topo do sacrifício, puxa-lhe o tapete e não lhe dá nem o gosto de ficar para assistir à pedra esmagando o besta.

Woody Allen trabalha fórmulas já esgotadas? Sim... Mas, o talento do cineasta, na minha imprópria opinião, é preparar um leito de enfado e tédio onde o clichê se deita para fazer amor com a audiência. Mas, na hora H, quando levantamos o véu para beijar o clichê, somos surpreendidos (inquietados?) seja pelo riso, pela ternura ou pelo desconforto.

Até o gesto mais comum de cantar no banheiro se torna, no delírio de Allen, algo surpreendente. E o diretor dá continuidade à estratégia (adotada em Meia-noite - de fusão entre passado e presente – sem nos dar o direito de optar decisivamente onde começa o antes e termina o depois. Esta estratégia aparece escorada numa exploração da encruzilhada entre o que é o personagem, o que são suas memórias e o que é a voz de sua consciência, colocando-nos em dúvida sobre o que é de carne e osso.

O cineasta afirmou que Para Roma, com amor é um dos piores filmes feito por ele. Este e os demais feitos por encomenda para prestar um tipo de homenagem a cidades-luz espalhadas pelo mundo, a exemplo de Paris e do Rio de Janeiro, cidade que será a próxima vítima do talento de Allen.

Ah, com relação ao filme...  Longe de qualquer ironia, se Para Roma, com amor é um dos piores filmes de Woody Allen, tenho medo dos melhores, que fatalmente me obrigarão a utilizar algum superlativo, coisa que não gosto.  

Os superlativos são associados a algum tipo de êxtase, mas pra mim são entediantes. Ótimo, maravilhoso, péssimo: essas palavras aguçam meu desconfiômetro, embora eu saiba que muitas sinceridades de ouro 25 quilates brotam de superlativos.

O problema dos superlativos é que eles me soam como um tipo de ante-sala do abandono. Lembro de Cristo entrando em Jerusalém ao som de “Hosana nas Alturas!”. As pessoas se rasgaram em superlativos e depois o abandonaram ao som do não menos superlativo “Crucifiquem-no!”. Sim, talvez com certeza as pessoas te recobrem de superlativos para, em seguida, abandonarem-te nu na medina.

Se um de nós dois morrer, Paulo Roberto Pires ou Woody Allen ou eu (Deus nos livre e guarde!), espero que os críticos e os senadores nos concedam ao menos a indulgência plenária...

* ;)
** :D


Trailer do filme

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