28 de junho de 2012

Quand J'ai etudié Français pour ne pas savoir quoi dire and wish Someone Un bon Voyage


Foto de Alba Luna




Deixo vocês com uma poesia de Cerevenise Stür. Logo em seguida, apresentamos o poema em sua língua original.




Em Francês com erros
Tradução:

Quand j'ai commencé à apprendre le français, j'ai remarqué quelques petites choses communes à l'apprentissage d'une langue étrangère ...

...  À l'apprentissage des ètrangèrs:

À l'apprentissage en commun

Peu commun...

Apprendre une langue n'est pas un n'import quoi
Parce que cela, simple et compliquément, donne à des choses une nouvell'importance

On doit demander la permission pour permettre à l'autre de nous entendre
Il fault que nous nous permettons d'être entendu par d'autres
On doit être prudents:

Pour ceux qui apprennent une nouvelle langue,
Tais-vous une partie de la voix de votre âme
Lorsque vous appelez les voix des autres
Car, dans la même âme, vou inviterez à la danse
Les silences de votre langue maternelle


Il est vrai que
Mon français est
Fabriqué à partir de morceaux de voix d'autres personnes
Pièces intacte,
Patauge Sourire radioactifment enrichi 
Anti-héroïsme dans laquelle la promesse est planté
Et cultivé par l'épopée et la surprise,

Je ne sais pas si Je fais une erreur, mi àngel, en disant en français
Ce que le don des langues infinies
Dejá n'est pas permis de traduire dans ma langue elle-même
Ce que la télépathie vainement tenté de profaner
Ce que le mystère imprudemment cru cacher
Je ne sais pas si il est un erreur essaier de dire en Français
Quelque chose tellement vivant et croissante
Qu'il ne peut pas être dit par les mots:
Ces lunes décroissantes

Parce que tous les dictionnaires ainsi que
Tous les circuits intégrés
Ou tous les réalisation de l'esprit et de les vérités
Ne seront pas en mesure de donner le sense juste
À l'heure actuelle, de faire le train de l'expression
Trouver la sortie de l'arrivée
Quand il ne sa pas la différence entre la station d'origine et la station de la fin (.)


Et après tant en français
Tant de voix en moi
Je trouve que j'ai appris le français
Pour te souhaiter, mon humain(e), mon noble Quelque-Un
Un Bon Voyage
Et ne savoir pas comment dire en silence,
Le plus de felicité que Je te souhaite
Et que tu rentre ta présence le plus tôt.
Et que dans ton atterrissage, Je peux être de tour ou de retour dans ton cœur.



Fonte: Imagens astronômicas



En Français
A poem by Cerevenise Stür


When I started learning French, I noticed a few things any foreign language learn to be learnt ...

... Foreign Common learning:

Common foreign learning ...

Uncommon

: Learning a language is not any something
It is not any thing because it means simple things intricateanyly

By learning, you get the permission to allow the other to hear you
And you allow yourself to be heard by others
But, be careful ...

For those who learn a new language
It is necessary to summarize the voices at, on and in their souls
Cause It is the moment for calling the voices of others
And inviting them to dance
The silences of their native language.


It is true that
My French is
Made from pieces of other people's voices
Pieces intact pieces,
Hesitations enriched by radioactive smiles
Anti-heroism in which is planted the promise of
A record harvest of epic surprise.

I do not know if I am wrong, meu anjo, by saying in French
What the gift of infinite languages
Is not allowed to translate in my language itself
What telepathy vainly tried to desecrate
What the mystery rashly believed able to hiding
I do not know if it is an error to say in French
Quelquechose so lively and waxing
It cannot fit itself
Still less to fit a word: such a waning moon.

Because neither all together dictionaries
Nor all integrated circuits
Neither every achievement of the minds and of the truths
Will be able to giving the right word
To this right now,
To expressing the world
Without the help of a train
Whose arrival is the delay, cause It cannot leave the station of end
Nor staying at the station of origin.


And after so much French
So many voices I find in me
I found I learned French just
To wish you, meu humano, Un Bon Voyage
And  for not knowing how to say in silence,
How I wish you to be happy
And let your presence be right back.
And that you let me be a presence right back or right at and on and in your heart.





In French

Quando comecei a aprender Francês, percebi algumas coisas comuns à aprendizagem de qualquer língua estrangeira...

... Comuns à aprendizagem do Estrangeiro:

Comuns à aprendizagem

Incomuns...

Aprender uma língua não é qualquer coisa
Não é coisa qualquer porque implica coisas complicadamente simples

É preciso pedir licença para que o outro se permita nos ouvir
Preciso é que nos permitamos ser ouvidos pelo outro
Há que se ter cuidado:

Pois quem aprende uma nova língua
Calará um pouco da voz de sua alma
Ao chamar as vozes de outras pessoas
Para, nesta mesma alma, convidarem para dançar
Os silêncios de seu idioma natal


É fato que
O meu Francês é
Feito de pedaços de vozes de outras pessoas
Pedaços íntegros,
Hesitações enriquecidas de radiativo sorriso
Anti-heroísmo no qual está plantada a promessa
De uma safra recorde de surpresa épica

Não sei se erro, meu humano, ao dizer em Francês
O que o dom das infinitas línguas
Não se permitiu traduzir do meu idioma para si mesmo
O que a telepatia inutilmente tentou profanar
O que o mistério precipitadamente acreditou esconder
Não sei se erro ao dizer, a Alguém, em Francês algo que
De tão sempre vivo e crescente
Não cabe nem em si
Quanto mais na palavra: essa lua minguante

Porque, nem todos os dicionários juntos
Nem todos os circuitos integrados
Nem toda proeza das mentes e  das verdades
Me serão capazes de dar a palavra certa
Nesse exato momento, o expresso da palavra
De saída, está atrasado
De chegada, não consegue deixar a estação de origem


E, depois de tanto Francês
De tantas vozes em mim
Descubro que aprendi Francês
Para te desejar, mon ange, Un Bom Voyage
E para não saber como dizer, em silêncio,
O quanto desejo que sejas feliz
E que tua presença esteja logo de volta.
O quanto desejo, na tua aterrissagem, estar de volta ou de ida em teu coração.



Se tanto me dói - Sophia Andresen

25 de junho de 2012

Luiz Gonzaga na mais alta conta no Baixio dos Doidos

Foto: Karla Vidal




Cheguei a "praguejar", como diria um bom "cabra da peste", devido ao atraso de alguns dias que houve para ser inaugurada a exposição Baixio dos Doidos, instalada em Caruaru, durante os festejos juninos, para homenagear o centenário de nascimento de Luiz Gonzaga. Mas, este atraso foi providencial, como  o atraso que faz o ponteiro do relógio de sol andar para trás, quando Deus decide mudar de ideia e postergar o dia da morte de alguma pessoa.

O cenário da exposição é de um trem fantasma em que os vagões são nossos próprios corpos. Há fantasmas a ser "vistos", mas não há monstros. E ocorrem sustos porque sempre há susto quando algum segredo nos espera por trás da porta, mesmo que tal porta seja feita não de madeira, mas sim de suspense com expectativa. Nesse caso, os cômodos da casa - que também pode ser chamada de exposição ou de instalação - são guardados por sentinelas que, ao contrário dos anjos, convidam-nos a voltar ao passado ou, mais precisamente, a um tipo de futuro do pretérito, visto que o Luiz Gonzaga homenageado é uma releitura que nos lança rumo a um Luiz Gonzaga que ainda vai nascer.

Foto: Thomás Alves (G1/TV Asa Branca)
De certa forma, não há nada de novo, pois a obra de Luiz Gonzaga foi feita de passados que cabem em qualquer futuro. Segue-se por um labirinto cujas salas com nome de canção ou cujas canções com nome de sala transformavam o momento presente num eterno ponto de chegada partida para o voo de algum pássaro nordestino - um assum preto ou uma asa branca ou uma saudade ou um não-prejuízo.

Os mortos que surgem nas paredes do trem fantasma continuam mortos. Os mortos que surgem nas paredes do Baixio dos Doidos são como ressuscitados que esperam chegarmos em cada canção (ou sala) para desmorrerem. Não tenho bem certeza, mas até acho que vi Chico Science desmorrendo, ressuscitando.

Foi quando presenciei uma releitura - por meio de fotos de crianças brincando de Neymar nos manguezais da vida - da música "Vi  dois siri jogando bola (lá no mar)". Luiz Gonzaga já havia sido comparado aos Beatles, mas ainda não havia percebido que ele era precursor do Mangue Beat. Ele, com despretensão e brinquejando, já aludia para como o subdesenvolvimento deixava as pessoas na fronteira entre humanidade e animalidade. E isso sem, provavelmente, ter precisado ler a obra de Kafka, que, certamente, lera Josué de Castro.

A sala da Asa Branca não focou a tragédia do sertanejo, mas deteve sua atenção no olhar de Rosinha, a heroína da canção-lamento. Reza a lenda que o verde dos olhos da amada, quando terminasse a seca, se espalharia pela plantação. E assim se fez: diante das fotos em preto e branco daqueles homens e mulheres de olhos verde-desespero/esperança, não pude deixar de mandar buscar, no outro lado do Atlântico, do castanho do olhar de Alguém, isto é, sua lembrança.

Tinha também uma parede toda furada que me chamava para brechar. Cada buraco - de tiro que não era tiro- era um monóculo, que apresentava a "tradução" de alguma expressão típica do vocabulário sertanejo. E, assim, enquanto ouvia o "fantasma" de Arnaldo Antunes declamando o ABC do sertão,descobri que estrupício significa "problema de grandes proporções".

Foto: Karla Vidal
Também me impressionou a sala "Paraíba Masculina, mulher-macho, sim Senhor!", na qual uma jukebox tocava a canção ouvida por fotos de drag queens penduradas nas paredes. Quando de seu lançamento, a música foi acusada de boicotar a feminilidade das mulheres quando o que Gonzaga queria não era nada mais do que ressaltar o que, no contexto atual, seria chamado de Girl Power. A exposição acabou por revelar, através de fotos, que essa música foi apropriada pelas drag queens como símbolo de resistência. E, nessa hora, escutei a melodia invisível de outra música: "Que diferença da mulher o homem tem (...) Se for reparar direito é pouquinha a diferença".

Antes do fim, fui obrigado a cruzar uma sala repleta de serpentes penduradas no teto como lustres. Fechei os olhos e atravessei ligero, protegendo o rosto com as mãos. O som que ouvi enquanto atravessava logo me fez despertar para o fato de que não eram serpentes, mas sim chocalhos, daqueles que as vacas, como pessoas educadas que são, usam para anunciar sua chegada a um determinado ambiente. Aquele som era como um tempo desencontrado que me achara ali perdido e, por meio de uma sensação de conforto triste que fez minha boca ficar seca sem ter sede, dizia que a derradeira sala da exposição vinha depois da última e antes da primeira. Essa sala era eu, coração!


A exposição segue, em Caruaru (Pernambuco), até 15 de julho.




Sala "Siri jogando bola" do Baixio dos Doidos



Sala "A morte do vaqueiro" do Baixio dos Doidos



Sala "Xote das meninas" do Baixio dos Doidos



Making of da exposição Baixio dos Doidos

23 de junho de 2012

São João, Alan Turing e a castração simbólica


Alan Turing
Fonte da imagem: Transcultural Buddhism

Alan Turing estaria completando cem anos. Ele é considerado um dos pioneiros da automatização da lógica binária (formada por zeros e uns), isto é, da computação.  E foi vítima de um tipo de preconceito herdeiro dessa mesma lógica binária que, por sua vez, é herdeira de uma apropriação extremista do Cartesianismo, o qual pressupõe a verdade do mundo como a divisão entre o Sim e o Não sem tolerância aos nuances intermediários da ambivalência.

O cientista foi, a exemplo de Oscar Wilde e Verlaine, processado criminalmente por conta de sua homossexualidade, considerada ilegal na Inglaterra dos anos de 1950. 

Turing foi publicamente humilhado, sendo impedido de dar continuidade a seu trabalho como pesquisador. Ele foi também submetido a uma castração química. Recebeu altas dosagens de hormônio feminino, o que o fez adquirir seios.  Dedicou parte de sua vida ao auxílio de operações militares de espionagem, mas não teve direito à preservação da esfera privada de sua vida.

A castração química parece, hoje, um fantasma absurdo perdido na poeira do tempo. Porém, não se deve perder de vista a ameaça de um outro tipo de castração: a castração simbólica. Este tipo de castração não trabalha com hormônios, mas sim com atitudes que, igualmente, procuram inibir a energia vital e fazer nascer no indivíduo algum tipo de estigma silencioso que o impeça de, convivendo com os demais, manter sua vida produtiva.

A castração simbólica não opera com hormônios, mas, assim como estes, age de forma velada, por meio de gestos mudos produzidos pelas glândulas do desprezo, da intolerância e da própria tolerância: uma maneira de restringir a liberdade de ir e vir a guetos escriturados no cartório da “boa conduta”.

São João é fruto de uma ação divina que venceu a dupla castração da qual seus pais foram vítimas. João Batista era filho de Santa Isabel, uma mulher de idade avançada e, até então, considerada estéril.

Nesse período, uma mulher estéril estava, em certa medida, predestinada. Era considerada como uma pessoa amaldiçoada e socialmente inútil – por ser incapaz de gerar descendentes. Além disso, por não ter filhos, estaria potencialmente sujeita a uma viuvez solitária revestida do abandono e da miséria. Mas, a esterilidade de Isabel foi revertida e ela conseguiu desconcertar a soberba de uma sociedade acostumada a fazer da castração sinônimo de lógica e de destino.

Parte do potencial intelectual e vital de Turing foi desperdiçado com sua morte prematura aos 42 anos, após ter supostamente se suicidado, comendo metade de uma maçã na qual havia sido injetado cianeto. Em certa medida, a sociedade se comportou como uma terrível madrasta que lhe ofereceu a maçã envenenada e o medo de ter no outro um espelho.

Em 10 de setembro de 2009, após uma campanha  na internet, o primeiro-ministro britânico Gordon Brown pediu, oficialmente, desculpas públicas, em nome do governo britânico, devido à maneira pela qual Turing foi tratado após a guerra.

22 de junho de 2012

Quando aprendi Francês para não saber o que dizer e desejar Un Bon Voyage



Bon Voyage Painting - Bon Voyage Fine Art Print - Ira Mitchell-Kirk





Deixo vocês com uma poesia de Cerevenise Stür. Logo em seguida, apresentamos o poema em sua língua original.



En Français
Um poema de Cerevenise Stür



 Quando comecei a aprender Francês, percebi algumas coisas comuns à aprendizagem de qualquer língua estrangeira...

... Comuns à aprendizagem do Estrangeiro:

Comuns à aprendizagem...

Incomuns

: Aprender uma língua não é qualquer coisa
Não é coisa qualquer porque implica coisas complicadamente simples

É preciso pedir licença para que o outro se permita nos ouvir
Preciso é que nos permitamos ser ouvidos pelo outro
Há que se ter cuidado...

Pois quem aprende uma nova língua
Calará um pouco da voz de sua alma
Ao chamar as vozes de outras pessoas
Para, nesta mesma alma, convidarem para dançar
Os silêncios de seu idioma natal.


É facto que
O meu Francês é
Feito de pedaços de vozes de outras pessoas
Pedaços íntegros,
Hesitações enriquecidas de radiativo sorriso
Anti-heroísmo no qual está plantada a promessa
De uma safra recorde de surpresa épica.

Não sei se erro, mon ange, ao dizer em Francês
O que o dom das infinitas línguas
Não se permitiu traduzir do meu idioma para si mesmo
O que a telepatia inutilmente tentou profanar
O que o mistério precipitadamente acreditou esconder
Não sei se erro ao dizer em Francês algo que
De tão sempre vivo e crescente
Não cabe nem em si
Quanto mais na palavra: essa lua minguante.

Porque, nem todos os dicionários juntos
Nem todos os circuitos integrados
Nem toda proeza das mentes e  das verdades
Me serão capazes de dar a palavra certa
Nesse exato momento, o expresso da palavra
De saída, está atrasado
De chegada, não consegue deixar a estação de origem.


E, depois de tanto Francês
De tantas vozes em mim
Descubro que aprendi Francês
Para te desejar, meu humano, Un Bon Voyage
E para não saber como dizer, em silêncio,
O quanto desejo que sejas feliz
E que tua presença esteja logo de volta.


En Français
Tradução

Quando comecei a aprender Francês, percebi algumas coisas comuns à aprendizagem de qualquer língua estrangeira...

... Comuns à aprendizagem do Estrangeiro:

Comuns à aprendizagem

Incomuns...

Aprender uma língua não é qualquer coisa
Não é coisa qualquer porque implica coisas complicadamente simples

É preciso pedir licença para que o outro se permita nos ouvir
Preciso é que nos permitamos ser ouvidos pelo outro
Há que se ter cuidado:

Pois quem aprende uma nova língua
Calará um pouco da voz de sua alma
Ao chamar as vozes de outras pessoas
Para, nesta mesma alma, convidarem para dançar
Os silêncios de seu idioma natal


É fato que
O meu Francês é
Feito de pedaços de vozes de outras pessoas
Pedaços íntegros,
Hesitações enriquecidas de radiativo sorriso
Anti-heroísmo no qual está plantada a promessa
De uma safra recorde de surpresa épica

Não sei se erro, meu humano, ao dizer em Francês
O que o dom das infinitas línguas
Não se permitiu traduzir do meu idioma para si mesmo
O que a telepatia inutilmente tentou profanar
O que o mistério precipitadamente acreditou esconder
Não sei se erro ao dizer, a Alguém, em Francês algo que
De tão sempre vivo e crescente
Não cabe nem em si
Quanto mais na palavra: essa lua minguante

Porque, nem todos os dicionários juntos
Nem todos os circuitos integrados
Nem toda proeza das mentes e  das verdades
Me serão capazes de dar a palavra certa
Nesse exato momento, o expresso da palavra
De saída, está atrasado
De chegada, não consegue deixar a estação de origem


E, depois de tanto Francês
De tantas vozes em mim
Descubro que aprendi Francês
Para te desejar, mon ange, Un Bom Voyage
E para não saber como dizer, em silêncio,
O quanto desejo que sejas feliz
E que tua presença esteja logo de volta.
O quanto desejo, na tua aterrissagem, estar de volta ou de ida em teu coração.

17 de junho de 2012

O segundo primeiro beijo: o homem que atravessou o Niágara a bordo de uma corda bamba


Nick Wallenda atravessa as cataratas, dos EUA para o Canadá


Fotografia © Mark Blinch/ Reuters



Os textos a seguir são assinados por Anônimo Silvan, que se autointitula poeta-repórter (ou vice-versa).



A segunda primeira vez

Alcino perdeu a memória
E sua esposa teve de aprender a se refletir
No rosto de um Odisseu absurdo
Que, entre um sonho e um acordar,

Fez dela um ninguém:
Nem épica, nem romântica
Nem inimiga, nem intrigada, nem divorciada

Simplesmente ela havia sido deslembrada
Mas não pôde se esquecer de lembrar quem ama
Ela ficou com um verdadeiro tesouro
Que tinha um valor imenso e doído,
Pois não era capaz de mostrar o caminho
Para que o alguém que ela amava chegasse ao mapa

E quis encontrar no esquecimento dele
um resto que fosse dela: fosse abstrato ou concreto,
Armado ou desarmado
Ela ficaria contente em ser o resto
Como um rastro de pólvora que
Beijado pelo milagre
Fizesse brilhar nos ares águas de artifício

E quis
No esquecimento
Desarmado
Contente
Rastro
Pelo milagre
Fazer brilhar

Do não sei onde, para onde vão os pensamentos
Alcino avistou o amor à primeira vista
Na mesma mulher que por ele já havia sido vista tantas vezes,
Incluindo a última vez
E ganhou o dom de pela segunda vez dar o primeiro beijo

E quis
No esquecimento
Desarmado
Contente
Rastro
Pelo milagre
Fazer brilhar

E ela, que havia sido esquecida
Foi trocada por ela mesma
Foi amada como nenhuma outra
Ao se tornar a outra de si mesma
E, assim, a traição mais vil
Tornou-se a maior prova de amor

Alcino aprendeu a re-amar
E ganhou o dom de relembrar
E de ter achado o tesouro
Na perda e no reencontro


E quis
No esquecimento *
Desarmado
Contente
Rastro
Pelo milagre
Fazer brilhar
Priscila

* "Não tinha lembrança, mas o amor estava ali", conta Alcino.

Homem viaja dos Estados Unidos para o Canadá a bordo de uma corda bamba

O filho pediu ao pai
Que esquecesse a promessa
De ao chegar no meio abismo
Parar para fazer uma ligação
Para sua amada,
Lembrando a ela que
Metade do risco de cair havia passado
O filho só queria que aquela travessia acabasse
E
O pai, que atendera ao filho,
Conseguiu finalizar a jornada à bordo das cataratas do Niágara
E, já no Canadá, apresentou o passaporte
E evitou ser multado
Por, em trânsito, fazer ligação de celular.





Nik Wallenda: primeiro a atravessar as cataratas do Niágara a bordo de uma corda bamba





Super-Nossa Senhora: homenagem de um olhar indecoroso (?)


Super Nossa Senhora - Por Soasig Chamaillard




Soasig Chamaillard fez uma releitura de imagens da Virgem Maria. O trabalho da artista francesa, que encontrou um jeito inusitado de restaurar estátuas danificadas de Nossa Senhora, suscitou o questionamento sobre os limites entre o original e o indecoroso, um questionamento que pode ser ampliado, acrescentando-se antes do ponto de interrogação uma indagação sobre em que medida a conexão entre os textos, isto é, a intertextualidade, deve (ou pode) ser estimulada ou inibida.

O olhar indecoroso - ou intertextual - não é o que invade a intimidade alheia munido de segundas, terceiras - e assim por diante – intenções.  O verbo que melhor caracteriza o indecoro não é o verbo invadir. É o verbo conectar.

O invasor pode entrar e sair sem deixar pistas ou impressões digitais. O indecoroso rompe com as defesas monádicas da individualidade e, a despeito do querer de sua “vítima” - conecta-se com ela, fazendo questão de deixar marcas da falta de decoro. 

O que mais envergonha num gesto considerado indecoroso – como o de tirar a roupa em público - não é o olhar dos outros sobre nossa nudez. É o elo que o (des)pudor estabelece entre as pessoas, a ponto de todos, ao se espelharem no portador do gesto indecoroso, sentirem-se igualmente nus ou, pior ainda, igualmente vestidos. Considera-se alguém ou alguma atitude indecorosa para não se correr o risco de ser acusado de ser cúmplice desse alguém ou desse gesto.

A dor (?) maior não é ser olhado indecorosamente. É ser assaltado pela sensação de que a conexão com o outro é inevitável.

Um fantasma que assombra os que têm medo da conexão, e, portanto, da quebra do decoro, é o medo de perder o controle sobre si mesmo, de ter sua identidade diluída na identidade com a qual se estabelece a conexão.

Esse medo é herdeiro da noção de heresia, que tem sido uma das acusações à obra de Soasig Chamaillard.  Acusar algo de heresia é uma tentativa de enfrentar a possibilidade – real ou imaginária - de ter a identidade e as certezas violentadas pela identidade alheia.  

Porém, é certo que a quebra do decoro e a conexão entre identidades são movimentos que fazem parte do exercício de suspensão da tradição e dos juízos consolidados, preparando a renovação da cultura. A renovação não entra em cena deitada em berço esplêndido. Ela, em certa medida, precisa ser precedida por uma dose de invasão bárbara.

O olhar indecoroso tira a roupa de quem está sendo olhado. É verdade. Mas, deixar o outro nu não significa necessariamente expô-lo à vergonha. Pode ser um gesto de revelar a roupagem de paraíso perdido que o veste.

Acredito que isso aconteça com o trabalho de Chamaillard. Ela desmistifica o extenuado chavão de que a cultura de massa é um tipo de vazio laicizado e mostra como imagens, por mais sagradas que sejam, podem ser visitadas por imaginários de diferentes ordens, incluindo o imaginário da cultura de massa.

Essas visitas podem produzir efeitos diferentes como a ironia, a homenagem, a crítica, a sedução e a difamação. Mas, é uma precipitação e uma injustiça ocultar esta diversidade de efeitos e entender a conexão e a falta de decoro como sinônimos de injúria, calúnia e difamação.




A modernidade é indecorosa porque sua matéria-prima é a conexão, isto é, o elo virtual e cambiável entre a materialidade e a imaterialidade. A falta de decoro dos tempos modernos traz o desafio de compreender a riqueza e a miséria que os elos – entre pessoas e ideias – são capazes de gerar.

Conheça mais sobre o trabalho de Soasig Chamaillard no site da artista e na coluna Tipo Assim, de Isa Otto.









12 de junho de 2012

Encontro de Santo Antônio e São Valentim para discutir a DR



Buquê de santos antônios - Fonte: Revista Bella Noiva


O reencontro é o não-começo e o não-fim de toda relação que se preza


A fama de Antônio de Pádua (ou de Lisboa, caso se queira tomar o lugar de nascença como referência), como santo casamenteiro, provém de uma jogada metonímica: trocou-se o fim pelo começo, pois, na verdade, Santo Antônio não se dedicava a formar casais, mas sim a evitar que eles se desunissem. E, como reza a tradição, ele era um especialista em promover a reconciliação amorosa.

Ou, talvez, minha avaliação esteja errada. Sim, certamente, pois as pessoas têm resistido a relações amorosas de duração mais prolongada, a exemplo do namoro e do casamento, por ansiarem pela reconciliação antes mesmo que o relacionamento tenha começado.

É uma angústia que faz sentido até certo ponto. A reconciliação pressupõe, como descreve a filosofia do Romantismo, um abandono, um encontro e um reencontro, que, sob o olhar da dialética, costumam ser chamados de tese, antítese e síntese.

O circuito da reconciliação começa quando a força das circunstâncias nos impele a abandonar as imagens idealizadas: de nós para nós mesmos, de nós para o outro, do outro para nós, do outro para os outros, de nós dois para os outros, etc e tal, tal e etc.

Esta etapa de abandono é sofrível, mas também libertadora. Primeiramente porque, como se pôde ver, o ciclo das idealizações é um labirinto sem fim para o qual não há Ariadne que dê jeito.

Segundamente, porque o melhor, talvez, da relação, chega depois da síndrome da depressão pós-desilusão. É quando os olhos redirecionam a potência idealista para os defeitos, que, dadas as devidas proporções, terminam por revelar sua parcela de charme e encantamento.

É quando - ao percebermos que o outro caiu no sono enquanto falávamos ou esqueceu uma data importante ou deixou escapar de leve um palavrão sutil – nos assalta a confiança de que por trás dos mal-entendidos se esconde um buquê de flores que não murcharão tão cedo, e um carinho que não vê a hora de ser resgatado da ilha deserta da raiva passageira.

Depois do abandono, vem o encontro. Enganou-se quem pensava que o encontro estava no começo da relação. Ele vem no meio. No começo, o que existe é um caos primordial, misturando mistério, expectativa e verdade-mentira ou mentira-verdade. Contudo, sobre o “à primeira vista” paira o Espírito com uma asa de destino e a outra de acaso.

O encontro é aquele momento em que o outro se torna um espelho do pior que parece haver em nós. O mais difícil nessa fase é ter de enfrentar a crise de abstinência do ideal: droga pesadíssima, que se esconde dos olhos para chegar cada vez mais perto do coração. Muitos relacionamentos que acabam, quando não precisariam, é devido a uma sobrecarga de idealização. Projeta-se no outro a idealização do pior de nós e projeta-se no outro a ausência de um melhor que não existe em ninguém. E, como se sabe, a idealização reincidente paralisa o vôo do Espírito.

Neste momento, Ariadne, espera com seu novelo na mão pela indicação de um tratamento para a dependência da idealização. Um remédio que nos dote dos dons taumaturgos de Santo Antônio. Que nos permita estar em dois lugares ao mesmo tempo, ou falar com o parceiro (o/a) sem abrir a boca, à distância e sem meios de comunicação, ou, ainda, ter uma lábia capaz de seduzir até os peixes. 

Sim, por isso elegemos Antònio o santo casamenteiro, por querermos que ele transfira pra nós um pouco desses dons que nos ajudariam a manter a relação na vibe do ideal. E deve ser por isso que, quando nos frustramos, desaguamos nossa porção de sadismo no Santo, submetendo-o a torturas talvez mais conhecidas que o próprio.

Como se sabe, o dia dos namorados é comemorado em junho, no Brasil. Mas também comemora-se em fevereiro, sendo, neste caso, dedicado a São Valentim (Valentine’s day). Ele foi um dos grandes combatentes da abstinência do amor. Protestou contra um decreto de um imperador que impedia os homens de se casarem por acreditar que relacionamentos amorosos drenavam as energias necessárias para as batalhas pelas quais passava o império.

Antes de ser morto, Valentim recebia, na prisão, flores e bilhetes com mensagens de pessoas que agradeciam por ele ser porta-voz dos que não queriam desistir do amor. 

Existem por aí, pairando, muitos decretos invisíveis que pregam a desistência do romance, como uma forma de prevenção contra a prisão da pieguice, do ridículo, da decepção, da loucura, do ______________ (acrescente o que quiser). 

Nada contra a opção legítima de não amar romanticamente, mas é importante pensar se não se está a confundir esta opção com a submissão a algum tipo de coação invisível.

Talvez ou não talvez, um primeiro passo no combate à dependência do idealismo e à dependência da realidade – que tanto ameaçam o fechamento do ciclo da reconciliação – seja o esforço de encarar as coações invisíveis.

Nesse momento, vejo que meu texto não valeu muito, pois soube prescrever a metáfora, mas não o remédio para a dependência do idealismo e, quem dirá, para a dependência da realidade.

Mas, sei (mentira, não sei, mas não custa nada fingir que sei!) que ouvi dizer que muitos milagres atribuídos a Santo Antônio começam quando uma das pessoas que tem medo da reconciliação cede e pergunta à outra - com o pensamento, a palavra, o ato e a missão –  Et toi, comment ça va?” *


* Mas, a simpatia só funciona se a pergunta for feita em francês!





This never happened before - Paul McCartney




7 de junho de 2012

Ilustres escritores desconhecidos: Vida L'Eau e A última primeira vez parcelada em cinco Eu-te-amos

Primeira vez - by Clécio Vidal







A aura feita de esmeraldas no sonho

Um conto de Vida L'Eau'Clauvius



Capítulo 1 - Terceira vez

Chegar perto da proximidade dele
É como levantar voo rumo a uma festa surpresa
Preparada para celebrar tua vida
Sem que hajas sido sequer (mal-me-quer?)
Convidado

Por que recebi o dom da quiromancia?
Dom com fratura imposta.
Fui obrigado a ler nas duas mãos esquerdas de Deus o nome dele
Muito obrigado, Senhor!:
Foi amor à pré-primeira vista, à segunda, terça,
Sem direito a sétimo dia

Como conheço o nome dele pelo rosto
Ou, talvez, o rosto dele pelo nome
Vivo me reapaixonando
E recebo o salário da graça, da desobrigação
Pago por aquele olhar,
Dividido em cinco vezes de uma vez só e acompanhada por sua solidão:
Primeira vez: de uma trava de amargura-alerta
Segunda vez: de indiferença que se lava as mãos na chama do vulcão mais próximo
Terceira vez: de um sarcasmo dignificado por espasmos de elegância sutil
Quarta vez: de uma altivez que largou, por terra, qualquer (bem-me-quer?)
Sentimento reptil
E fez instantâneo uso capião
Da pupila de uma águia, onde se esconde um “Era uma vez”
Quinta vez: de doçura avistada de longe
Nas terras de uma timidez antepassada e de uma ranzinzice antefutura
Sexta vez:

(Nem sei como consigo olhá-lo
Se o olhar dele meio que apaga meu rosto
E me força a reescrevê-lo.
E, assim, sigo livre, mas sem ter conseguido tirar dos ombros,
O peso das galés)

Depois deste parêntese, escolho voltar para a quinta vez do teu olhar,
O olhar de doçura à vista
Quero colonizar este olhar
Com meu exército de preces maculadas pela urgência da constância
Preces lentas e cruéis
Que dividem o pedido em cinco vezes:
Premier fois: pela felicidade que se apelida saúde e paz
Deuxième fois: pela felicidade capaz de fazê-lo livre para pensar em mim
Antes de dormir, de me visitar durante o sonho
E de estar ao meu lado depois da realidade
Troisième fois: pela felicidade que a palavra consegue não imprimir
E o silêncio ab-ruiu* mão de exprimir
Catrième fois: felicidade que faz os clichês do amor nascerem calçados
No horizonte do mistério
Cinquième fois: felicidade capital
Quinta vez:


* ab-ruir: mais que ruir; mais que à rua ir, mais-que-sorrir.

Capítulo 2: Quarta vez

Soube hoje que faltavam somente dois encontros para que ele deixasse de se permitir ser visto por mim. Foi quando meu coração assumiu como nome próprio seu apelido dor.
Tentei estar perto dele como ridículo
Como sábio
Como Incapaz
Como anjo
Ao cabo, percebemos, eu e minhas caravelas,
Que nem um perito em caminhos, nem uma Dafne triplamente qualificada
Conseguiria vencer a distância que a proximidade dele impõe.
Antes da largada, ele consegue estar a vários corpos e almas de vantagem
Com relação a mim.
Do alto do primeiro lugar do pódio, ostento o fardo de ouro que ornamenta meu peito
Consegui deixar até mesmo o tempo em segundo,
Mas é tentativa vã perder a distância que entre nós se põe a nascer
Mesmo assim, saber que ele está no mundo, na mesma época que eu,
Saber que ele está no mundo é como um sonho
De alguém que dorme com um olho aberto e outro fechado

Ele sacou aquele aperto de mão
E sua formalidade me feriu a queima-alma

Capítulo Trois: Segunda vez

Chegar perto dele:
Três impossíveis encadeados sintaticamente

Capítulo Quatro: Quinta vez

A primeira vez é-foi-será como um tornado
Que com uma das mãos rema o passado,
Que, de tão silenciado,
Sempre terá algo a dizer
E, com a outra mão, rema o futuro
Num mar que o tempo ainda não teve tempo de esculpir
E com a outra mão rema os impossíveis,
Os inimagináveis, os inconciliáveis: os improibíveis
A segunda vez:

Capítulo Cinco: A dernière fois

Contei a uma amiga como havia sido o sonho
Eu estava com vergonha
Porque tanto a narrativa quanto o sonho
Eram de corassão
Mas, minha vontade de faltar com a vergonha eu já a conhecia de cor e me salteou.

No sonho, ele dormia na areia
Como fosse uma estrela sem teto
Que havia decidido, às pressas, deitar ao relento
Na Via-Láctea

A aura do sono dele dividia-se em minutos, segundos...
Os minutos eram esmeraldas brutas
Os segundos esmeraldas despojadas
Os milésimos esmeraldas de um ardor
Que, talvez, o imponderável consiga descrever
E a tensão das superfícies consiga captar

Ele me despede,
Mas a aura, os minutos...
Não se despedem de mim

Ele me despede em cinco vezes:
Primeira vez: com a hostilidade que se devota a um soldado do campo adversario
Segunda vez: com a profilaxia que se devota a um antígeno
Segunda vez: com a formalidade que se devota a um anfitrião convidado a se retirar
Segunda vez: com o olhar que, daqui a pouco, passará ao meu lado
E rezará uma prece para me ignorar
Segunda vez:

E eu quero me desculpar por garimpar a sua aura,
Os minutos, os segundos, o primeiro: o único
Até achar o “Eu te amo”,
Que para ele dividiu-me em infinitos inteiros.


Capítulo Sete: A primeira vez:







A amizade - Françoise Hardy








Última vez - by Cláudio Eufrausino


Noturno (Chopin) - cena do filme O Pianista 



Cena final de Cinema Paradiso



Eu te amo - Chico Buarque
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